sábado, 3 de abril de 2010

Musica da Semana: Koop, a discografia neo-jazz deste duo sueco

O destaque semanal desta vez recai sobre uma outra "banda" neo-jazz que aprecio há bastantes anos. Refiro-me aos suecos Koop, composta somente pelo duo Magnus Zingmark e Oscar Simonsson, que praticam uma sonoridade electronica/jazz muito elaborada.

Recentemente lançaram uma colectânea de revisão da carreira, a:

"Coup de grâce - 1997-2007" Koop (2010)



Eles vivem em estado de graça (curisoamente a expressão utilizada para o best of deles, que no entanto, tem um outro significado relacionado com o ponto do declinio). Com uma colectânea como "Coup de grâcepor aí nos escaparates, nada melhor que revisitar a discografia dos Koop. Uma tarefa que me levará a cingir, desta vez (espero fazer um outro complementar a este), pelos registos em nome próprio, descartando as imensas edições de remixes que foram surgindo. 



1998 - "Sons of Koop"

O primeiro álbum dos Koop foi o ponto de encontro que tive, devido ao projecto estar associado à corrente trip-hop. Na verdade, este primeiro álbum não era simplesmente trip-hop pois com ele os Koop pareciam pretender encontrar um rumo criativo e assimilaram diversos estilos das então novas tendências da altura. Há maioritariamente trip-hop mas também algum drum'n'bass, downtempo, jazzy vibes e até uma ligeira pincelada house.


Há traços em comum com projectos como os Massive Attack (também os vocalistas são todos contratados), os The Avalanches (é tudo à base de samples mas os Koop usam-nos com um sentido de recriar um som de banda maior e não os recortes de corta-e-cola), há um permanente tom jazzy como faziam os De-Phazz nos anos 90 e no inicio uma sensibiliadde delicada de arranjos que faziam lembrar os Alpha (quando estes começaram) e por fim, uma capacidade (no inicio) de criar uma atmosfera sonora como os Thievery Corporation, de contornos melancólicos, dolentes e algo depressivos como muito bem faziam os Portishead.
Depois evoluíram e passaram a recriar uma sonoridade mais neo-jazz dançante para ambientes chill-out, muito semelhante a Nicola Conte por exemplo, o que neste género faz dos Koop os reis deste estilo.


"Sons of Koop" é um dos melhores álbuns que a minha estante de CD's alberga. Este álbum parece ter sido concebido com a mesma matéria que povoa os nossos sonhos (e pesadelos), onde recriar sonoramente uma estranha viagem pelos confins do sonho, com as mudanças de rumo não-linear típicas de quando estamos a sonhar.
Logo pelo arranque com o curto instrumental "Introduktion", seguido da impressionante "Glömd" (voz de Cecilia Stalin), que a sensação desta sonoridade fresca e revigorante se instala. Eu vejo este registo como uma requintadada arquitectura sónica, cujo inicio é jazzistico q.b. (com pinceladas de batida house), contudo, a mutação do som conduz-nos a um pesadelo depressivo de expressão trip-hop (a fabulosa faixa "Psalm") maquinal, e evolui para faixas onde tanto o ar pode ser rarefeito (em "Bjarne Riis") ou arrancar para o espaço sideral (com "Absolute Space").
O pesadelo instala-se e o que se sucede é tranquilidade ("Words of Tranquility") e um pedido de salvação (com a magistral "Salvation" a melhor canção do álbum) em voz soul. E chega realmente o apziguamento, quer por poesia (que se escuta mesmo no fim) ou pelo admitir que tudo não é mais que um sonho (na trip-hop low-fi "Once Britten").

Glömd

Deu para perceber?
Este é um um álbum magistral, belissimo (até pela sua edição em digipack de design grafico saboroso), é um dos meus discos de eleição!



2001 - "Waltz For Koop"

Com um álbum de estreia tão bom, eu próprio tinha-os na altura já num pedestal tão alto, que a longa espera por um novo registo era algo que fervia. Pois bem, ele lá chegou em 2001 e foi resgatado numa FNAC imediatamente, sem prévia escuta sequer. Foi chegar a casa e preparar-me para o mais puro deleite da electrónica dos Koop. E mal o disco começa que algo pareceu estranho demais para o que esperava.



"Epa?! Mas isto... isto é mesmo jazz. Apenas jazz, caralho?!
O que acoenteceu ao trip-hop e quejandos electronicos do "Sons Of Koop"?"
A verdade era mesmo esta:
este era um álbum de neo-jazz, cuja sonoridade continuava refrescante, com noções de execução ao estilo da electrónica mas que não se notava estar presente. Depois todo o swing imparável, som frenético, fortes linhas de contra-baixo e as mini-orquestras de suaves arranjos de cordas... foi-me conquistando aos poucos, escuta após escuta... e sim era mesmo muito bom.

Summer Sun

Tive de admitir o óbvio: este álbum é uma obra-prima, delicada, que traz novo fôlego ao jazz, tal como um cavalo de Tróia, ele revoluciona apartir de dentro. Na altura, foi marcante e ajudou, penso eu, a dar nova vida a esta corrente do neo-jazz.
Sonoramente maravilhoso e puramente viciante, pois o duo Koop, recorrem à memória geral que se tem do jazz para através de samples (parece impossível mas não se toca aqui um único instrumento - é tudo samples) se recriar uma sonoridade e a devolve para ser escutada como algo puramente novo.
Arranca com uma sequência que não dá para separar: "Waltz For Koop" > "Tonight" > "Baby" > e desenboca em "Summer Sun", que foi a loucura de verão nas pistas de dança de bom gosto. Há que destacar ainda faixas como "In A Heartbeat" (maravilhosa malha com uma toada quase tribal), "Modal Mile" (só o som do trompete a inicio...) e a que termina o disco "Bright Nights" é de uma melancolia jazzy (cantada pela oriental Yukimi Nagano) magestosa.
Este é um álbum neo-jazz brilhante, aclamado pela critica e vencedor de vários prémios. Altamente recomendado!!!



2006 - "Koop Islands"


Depois de um álbum tão célebre como o de 2001, que já tinha seguidores no género, os Koop regressam com uma espécie de sucessor. "Koop Islands" é isso mesmo, uma espécie de continuação onde o duo aprofunda ainda mais a sonoridade neo-jazzistica e a catapultam para o imaginário dos anos 20.

Come To Me

Há decórs de festejos, brilhantina nos cabelos, há plumas, mulheres sedutoras, dança-se à moda antiga (levantando o pézinho e tudo). Os Koop conseguiam-no de novo e criavam um álbum tão bom quanto o antecessor, que perde apenas por não ser tão diferente e distinto. No fundo este é mais uma sequela, apenas refém de uma sonoridade que se tornou a imagem de marca dos Koop.
A destacar: "Koop Island Blues", "Come To Me", "I See A Different You", "The Moonbounce" (enebriante), "Beyond The Sun" ou "Whenever There Is You". "Koop Islands" aparentemente sem grande mudança formal, é um bom e belissimo álbum. É Koop!

Koop Island Blues



2008 - "Strange Love" (single)


Os Koop, lançam uma nova canção na recta final de 2007/2008, para apaziguar os desejos de um novo álbum, que os próprios dizem estar atrasado (na altura e no momento) devido ao processo de complexo que usam para canceber canções só com samples.
"Strange Love" é uma bela canção, onde dá para se ter uma ideia de uma sonoridade mais luminosa e fresca. Sabe a pouco... por ser tão boa!

3 comentários:

Anónimo disse...

Koop realmente é uma referência no cenario neo-jazz. Em cada disco é perceptível a sensibilidade e talento destes suecos. Que venha ainda muito mais.

ArmPauloFerreira disse...

Muito obrigado pelo comentário. Sim que os Koop façam mais nova musica que será bem recebida.
Indiquei que faria um artigo complementar e... ficou-se pelo caminho!

Maíra Ortins disse...

eu também encontrei bossa nova, mas não encontrei qualquer referência, todavia, há.