sexta-feira, 27 de agosto de 2010

The Box: o que dizem por ai do filme de Richard Kelly...

Só mesmo um grande critico profissional de cinema como o Jorge Mourinha, do Ipsilon, poderia ter a grande capacidade de saber ver o mais recente filme de Richard Kelly.
É o meu critico favorito e de eleição... mas não é o único por aí a "louvar" o "The Box"...


Presente envenenado - Crítica Ípsilon por: Jorge Mourinha

"Sob a capa de um thriller surreal entre o terror e a ficção científica, o autor de "Donnie Darko" assina um grande filme maldito, inquietante e romântico


Richard Kelly tem uma panca com o fim do mundo. Lembram-se certamente do sinistro coelho profeta que assombrava Jake Gyllenhaal no filme que os revelou (ao actor e ao realizador), já lá vão quase dez anos, "Donnie Darko" (2001). Não se lembram do apocalipse de "Southland Tales" (2006), o seu controverso segundo filme, porque nunca chegou às salas portuguesas. Agora, "Presente de Morte" (patético título português para o conciso original "The Box") flecte flecte insiste insiste, ao regressar no tempo a 1976 para acompanhar o modo como uma simples caixa de madeira com um botão pode ser uma intimação existencialista do apocalipse anunciado.
(...)
...a ficção científica distópica e as crises económicas e políticas de uma altura em que os americanos tinham uma verdadeira desconfiança do governo. Filtra-as, em seguida, por um trabalho atmosférico meticulosamente construído, onde há sempre algo que não encaixa na reconstituição de época exacta - é legítimo invocar a subúrbia descentrada do "Veludo Azul" (1986) ou da série "Twin Peaks" (1989-1990) de David Lynch, mas "Presente de Morte" tem mais a ver com uma espécie de James Gray invertido.
(...)
...Kelly navega entre a ficção científica, o terror e o melodrama como se não fosse nada com ele). Mas não é nada descabido compará-los, até porque ambos fazem figura de aves raras incompreendidas no seu país natal.
Percebe-se porquê: um como outro exploram um reverso da medalha escuro e perturbante que se dá mal com a imagem solar e optimista que Hollywood prefere dar da América. Por muito que "Presente de Morte" se passe em 1976, é também um filme que fala aos nossos tempos, e que o faz de um modo ostensivamente insidioso e genuinamente inquietante - o melhor thriller "de género" que vemos desde o aterrador "Nevoeiro Misterioso" (2007) de Frank Darabont (e, como ele, também um fracasso doloroso nas salas americanas). Faz sentido. Ninguém sai deste filme reconfortado."


Ante-Cinema - Crítica: «The Box – Presente de Morte»critica de Sérgio Rodrigues:

"Richard Kelly, realizador do filme de culto Donnie Darko, após Southland Tales – uma incursão mais estilosa à ficção-cientifica – regressa ao género em que provavelmente se sente mais à vontade: ao thriller de suspense, isto mais especificamente já que todos os seus filmes, incluindo este The Box, têm elementos de ficção-cientifica.
(...)
The Box, que pode então ser considerado tanto um drama de suspense e terror psicológico como um thriller de ficção-cientifica (...) propostas duvidosas, dilemas morais e éticos, drama familiar, espiões russos a espreitarem pela janela e realidades alternativas, são a receita de The Box para um thriller tenso e misterioso, quase num misto de Hitchcock com David Lynch. A acrescentar é que Richard Kelly consegue filmar aqui um regresso ao mais clássico thriller de ficção-cientifica num fabuloso mise en scène. The Box pode muito bem ser considerado um tributo aos thrillers de ficção-cientifica dos anos 70, porque para além da narrativa passar-se nessa década parece ser um produto filmado nessa altura, factores a realçar e que ajudam por um pormenorizado guarda-roupa e uma elaborada direcção de arte.
(...)
Com boas e confiantes interpretações do trio principal e uma grande dose de suspense, The Box não é no entanto um filme para todos, para além de ser confuso em momentos é lento, mas vive dessa narrativa de drama para envolver o espectador, num raro caso nos dias de hoje onde a ficção-cientifica é filmada de um modo inteligente. Vive de um terror mais psicológico, não só assustador mas desconfortante por parecer um retrato quase futurista da humanidade, isto é, se o filme fosse visto na altura seria hoje uma mensagem actual da nossa sociedade."



Adenda (2011):


Split Screen, "Presente de Morte" critica de Tiago Ramos:
"É um conto moral pessimista, sarcástico, que se rende à inevitabilidade da fraqueza humana e talvez seja esse um dos motivos que explica a fraca receita de bilheteira do filme. Não gostamos que nos confirmem aquilo que temos dificuldade em reconhecer como negativo em nós. Tudo pontuado por uma subjectividade narrativa muito comum em Richard Kelly e uma anarquia argumentativa, cheia de exageros e situações surreais, com uma mistura de sci-fi que habitualmente não é recebida da melhor forma. Existe então alguma confusão na percepção do objectivo do filme, em meio a uma excessiva explicação de alguns pormenores.


Na realização, o cineasta recusa-se a obedecer aos padrões do cinema do Hollywood e mesmo com um ritmo lento consegue criar um ambiente tenso, num thriller psicológico que evoca o cinema de Alfred Hitchcock – não querendo comparar – e umas nuances inspiradas no surrealismo de David Lynch.
(...) Uma mise en scène soberba que explora muito bem os conceitos de claustrofobia, muito ajudada pela banda sonora de Win Butler e Régine Chassagne dos Arcade Fire.
(...)
Nas interpretações, o realizador consegue que todos os actores tenham um trabalho competente – sim, mesmo Cameron Diaz (Knight & Day) – mas com especial destaque para Frank Langella (Frost/Nixon).


Presente de Morte merece ser visto sem sofrer preconceito ou por comparação com Donnie Darko do mesmo realizador. Deve ser visto como aquilo que é: um objecto intrigante sobre o ser humano."



Keyser Soze's Place, "A caixa (2009), de Richard Kelly", critica de Samuel Andrade:

"(...) Kelly recorre a um particular género (nesta caso, o terror/suspense) para dissertar acerca da condição humana (ou condicionamento), entre um emaranhado de alusões culturais e cenários de catástrofe eminente. Para o cineasta, o "fim" nunca está próximo. O "fim" é uma realidade presente.
(...)
Revelar mais pormenores do argumento constituirá uma ameaça ao desfruto de A CAIXA por parte de quem ainda não o visualizou. Porque o filme, apesar da potencial absurdidade da sua narrativa, é surpreendentemente fluído e inspirado, sem um único momento morto de grande registo e capaz de prender o espectador até aos últimos frames. Os predominantes castanhos da fotografia recordam-nos películas dos anos 70, a banda sonora é arrepiante, a montagem descortina circunstâncias e locais de uma forma que invejaria o próprio Stanley Kubrick quando este filmou SHINING (1980). E as interpretações não saem envergonhadas, com o "renascido" Frank Langella apropriadamente intimidador na figura de um peculiar anjo da morte e Cameron Diaz a dar razão aos que acreditam que a actriz deveria explorar, mais e melhor, o seu lado "negro".


A principal conclusão de A CAIXA (porque da sua história é bem possível que não se tire muitas, depende imenso dos gostos de cada um) é a de que Richard Kelly assume-se como um cineasta detentor de visão incomparável no actual panorama norte-americano, mas que precisa, urgentemente, de encontrar um argumentista parceiro capaz de limar e esclarecer as suas ideias. Com tantos apontamentos visuais de qualidade, é pena que o realizador os extravie num manto de assuntos dispersos, aprisionando o seu talento numa "caixa" por ele mesmo concebida."


São todas excelentes criticas e boas classificações.
Estão em sintonia com a minha análise a este filme (clicar para rever).

The Box

3 comentários:

Tiago Ramos disse...

Concordo plenamente convosco!

ArmPauloFerreira disse...

Estou curioso por ler a critica do Splitscreen...

Sam disse...

Em plena sintonia! :)

Abraço!