segunda-feira, 13 de junho de 2011

Eu e os muitos filmes (3)... escrever sobre filmes


(...)"a escassez de vontade de escrever, passando por alguma irritação derivada da tentativa de "forçar" uma crítica, até a uma clara sensação de que o meu vocabulário me parece, agora, extremamente limitado.
Sempre as mesmas palavras, os mesmos adjectivos, os mesmos pensamentos.


Não há inovação, não há frescura, não há vontade, não há evolução no meu método de escrita.
Em tempos -há alguns meses atrás e olhando para trás- tinha a clara sensação de que estava a evoluir no meu método de análise escrita.
Após editar uma crítica, olhava para o que tinha escrito e sentia-me orgulhoso.


Ultimamente, tal não me tem acontecido. De todo.
Todas as minhas análises me parecem iguais, carentes de chama"(...)

Em 2010, li um dos mais sinceros desabafos que mais me impressionaram e talvez mesmo o post do ano da blogo-esfera que conheço (não é muita também). Foi no CinemaJb, no espaço do muito jovem cinéfilo Rui Pereira, que é extremamente dedicado e que um dia vai dar que falar (tem opiniões muito personalizadas - mesmo que muitas das vezes discorde dele), que estas pertinentes palavras foram publicadas

Bem mas o que é que isto tem relativamente a mim?
Ora bem, eu revejo-me totalmente no excerto que aqui coloquei. De tal forma, que o momento em que estas brilhantes palavras foram publicadas, atravessava eu um fase de "apagão de pseudo critico-cinéfilo". Um ano inteiro a ver montes de filmes e pouco ou nada escrevia sobre o que via. Vá lá que, exorcisava-me ao comentar por aí nos espaços dedicados a cinema de outros, se calhar aborrecendo como um troll, o que outros haviam (e bem) tornado em publicações as suas criticas e visão.

Não sou nenhum expert no assunto cinéfilo. Vi isso sim imensos filmes de diversos tipos de produção ao longo da vida e como um vicio. Aprendi com isso a ser tolerante com o filme em si.

O que disseco por etapas quando abordo uma obra:
- Ponto um: a abordagem começa por tentar compreender de onde sai o filme, quais os objectivos que se evidenciam, onde o filme quer chegar, a quem quer chegar e o que quer dizer.
- Ponto dois: segue-se a forma como ficou feito, como se apresenta, como se o vê e ouve e como ele se reflecte nos atributos (do ponto um);
Tudo isto (e outras razões não descritas) moldam o que acho dum filme.

Pode ser um filmezeco feito nas mais merdozas condições de produção possível, como no sentido oposto, pode ser o mais bem produzido e rodeado do que há de melhor que o dinheiro pode comprar.
Tudo isso se torna relativo se a chama cinéfila não estiver presente no filme, se as histórias que desfilam diante dos olhos nada souberem contar pelo menos. Não pretendo com isto, dizer que, é o argumento o fundamental dum filme. Não é só por aí (mas é importante) pois é um atributo muito relativo. É difícil quantificar até a questão de um argumento pois há filmes que não funcionam a pensar em ser coerentes sequer (lembremos David Lynch) mas que no seu estado de elevação de arte provocam sensações em quem o vê.


Conduz-se assim, á questão desta mini-reflexão que é escrever sobre um filme.
O que dizer sobre um filme? Reflectir sobre a obra visionada? Ser parcial ou imparcial?
Se se gostou, não se deve elevar ao exagero... ou se não se gostou, não se deve arrasar também?
Afinal, o que é para mim não será para outros... e há muito que acho ter perdido o sentido critico também.

É uma tarefa difícil, principalmente quando se pensa de maneira megalómana. Quando a indecisão está entre descrever a totalidade do filme ou meramente apontar o que mais se destaca rapidamente ou outra abordagem qualquer. O importante, vou concluindo, é que terá de ter personalidade. Pode ser objectiva, um devaneio, uma reflexão, um resumo formal, um pretexto para se partir para algo mais, etc. O importante é ser distinto sempre que possível, que saiba fomentar o interesse (ou não) para ser visto pelo ponto de vista de quem o escreveu, deixando espaço para que mais outras visões possam ser acrescentadas.

Escrever sobre um filme é um assunto pertinente, muitas vezes desvalorizado mas a verdade é que, não sendo eu um profissional ou académico no assunto, por vezes não sei como o fazer também. Quando o devo fazer e como abordar correctamente quando uma obra mais precisa.

É verdade sim e "todas as minhas análises me parecem iguais", longas e sem rumo por vezes.
No fundo, eu e os muitos filmes... e as más criticas que produzo em maus textos com "vocabulário me parece, agora, extremamente limitado".


Afinal, a arte não é definitiva. A arte será sempre subjectiva, dependente das experiências e cultura de cada um. E o cinema é uma arte que junta diversas artes (visuais, sonoras, escrita, técnicas, etc) que mesmo no mais mau filme estão sempre presentes. E como arte é a apreciação de cada um... também será sempre subjectiva.


Mas chega de devaneio. E daí talvez não...

4 comentários:

David Martins disse...

isto é que escrever com coragem! E indirectamente fez-me pensar sobre a fase "preguiçosa" que ando a passar...tenho montes de reviews "atrasadas"....precisamente porque não em resolvo a encontrar um estilo de escrita que me satisfaça a 100%, passados tantos anos ainda ando a fazer experiências...

ArmPauloFerreira disse...

Obrigado, grande amigo David!

Anónimo disse...

Concordo em grande parte com o texto. O pior passa mesmo quando fico sentado numa tarde de folga em frente ao computador e pouco ou nada sai, ou melhor, quando tudo o que escrevo parece não ficar de acordo com o pretendido e acabo por apagar.

Cumprimentos.

ArmPauloFerreira disse...

Xiii... isso acontece-me imensas vezes. Quando é assim o pouco que desenvolvi deixo em rascunho... um dia mais tarde com mais inspiração lá se resolvem.
Mesmo assim ainda tenho varios acumulados...