terça-feira, 16 de abril de 2013

Cine-critica: Tabu (2012)

"Tabu"
(2012)



Realização: Miguel Gomes

Com: Teresa Madruga, Laura Soveral, Henrique Espírito Santo, Carloto Cotta, Isabel Muñoz Cardoso, Ivo Müller, Manuel Mesquita, Ana Moreira...

Sinopse: "“Aurora tinha uma fazenda em África…” Uma idosa temperamental, a sua empregada cabo-verdiana e uma vizinha dedicada a causas sociais partilham o andar num prédio em Lisboa. Quando a primeira morre, as outras duas passam a conhecer um episódio do seu passado: uma história de amor e crime passada numa África de filme de aventuras."



Um filme elíptico, como que conduzindo numa velocidade enquanto se olha para trás a um retrovisor habitado por evocações de um passado que teima ser revivido... um tabu. Um filme iluminado por sombras e memórias, cuja construção engenhosa respeita a forma de ilustrar as memórias (que não se ouvem já com a total precisão, mostrando literalmente pessoas a falar sem as ouvirmos, mas que alguns sons ficam retidos e retirados do subconsciente - daí o recurso certeiro a momentos de uma espécie de cinema mudo e sem cor - sempre preto-e-branco).
Coloca-nos como os ouvintes da confidência de um segredo, da verdade... de um tabu assim exigido, só possível de ser revelado depois do "depois", sendo que esse depois é entregue... só depois, deixando vontade de regressar ao seu principio para assim entendermos que algo literalmente terminou porque está engenhosamente desenvolvido como um "crocodilo" com o rabo na boca. Mas o que vemos é que aos crocodilos se lhes mete um pau na boca... e se os encontra também nas nuvens do céu.
Um filme onde temos a clara percepção que uma pessoa senil poderá se eclipsar por ter mais memórias de vida que aqueles que a não viveram.

O tempo pára enquanto este filme decorre... com o seu festim de evocações, confidências e de belíssimas canções e de uma realização magistral pontuado por uma direcção artística de impor tremendo respeito.
Por acaso é um filme português... mas é universal. Recomendado a quem se deixar entregar e disso não faço qualquer "tabu", pois merece ser descoberto com a disponibilidade adequada.


Classificação:
9/10
Grandioso

1 comentário:

Jorge Teixeira disse...

Grandioso, sem dúvida (e ainda por cima português eheh). De facto, as nossas memórias são algo sempre muito encoberto e estranho o suficiente para termos dificuldade em expressá-las. O filme retrata isso muito bem. Belíssimo texto, adorei ler.

Cumprimentos,
Jorge Teixeira
Caminho Largo