Começo por referir aquela que é a mais importante, pois é um regresso de um dos maiores clássicos de sempre de Hitchcock, para mim a sua obra-prima e um dos meus filmes favoritos de sempre.
A questão maior aqui é porque devemos de o ir ver ao cinema, quando a maior perte de nós, eu inclusive, o temos em DVD (ou outro formato) a reluzir lá na estante? Ora bem... porque "Vertigo" regressa em versão remasterizada, ou seja, com melhor imagem e som numa cópia digital de alto nível, configurando-se também numa rara oportunidade de redescobrir esta obra numa sala de cinema como nunca se a viu.
Depois, esta semana reserva ainda duas estreias que estão a figurar nas listas anuais dos melhores do ano.
Refiro-me a "Holy Motors" do Leos Carax (tido como uma obra livre e não convencional e que surpreende -só vendo se sabe)...
... e o "Life of Pi" de Ang Lee (a recriar visualmente o fantástico do livro que adapta - e não esquecer o tigre digital).
Também o realizador brasileiro Walter Salles a adaptar um livro tido como difícil em "On The Road", reunido com um elenco bastante interessante (apesar de o filme não deslumbrar totalmente e não ser verdadeiramente Bom, é ainda assim muito interessante de ver, pois é um road-movie que aponta sobre o saber viver a vida e a perseguição de serem pessoas livres a fazerem o que querem - 6/10 Interessante).
E sim, há mais uma animação muito a jeito para esta fase natalícia... but who cares, right?
Mesmo que não possam ir ao cinema... façam na mesma por ver filmes de outras formas (hã... ninguém se importa como...).
Dos muitos filmes de Hitchcock que conheço - e conheço-os para lá dos que, canonicamente, são considerados os seus melhores -, acho Vertigo o melhor, o mais perfeito. Mas não é dos que me dá mais prazer ver. Isto não é um paradoxo - é mesmo um sinal da grandeza do filme.
ResponderEliminarEsteticamente, Vertigo é um filme lindíssimo. Em termos de narração, é um exemplo de virtuosismo, em particular as vastas sequências sem diálogo, apenas pontuadas pela música, mas que não impedem o avançar da narrativa ou o desenvolvimento dos personagens (Hitchcock, não o esqueçamos, ainda vem do cinema mudo). Tecnicamente, Vertigo é um portento, e vê-lo em sala uma experiência que dificilmente se esquece (eu fi-lo na passagem comercial de há uma dúzia de anos). A música é, na minha opinião, uma das grandes bandas sonoras do Cinema.
Mas Vertigo é um filme que me chega a causar desconforto. Porque a história não é uma história feliz ou agradável, de todo. Até certo ponto, é sórdida: um homem, apaixonado com tanta obsessão por uma morta que a tenta recriar numa dupla, tem o seu quê de doentio. E Jimmy Stewart, tão popular pelos seus papéis heróicos e de bom rapaz, brilha neste desempenho, nesta desagradabilidade. Stewart criou um personagem do qual posso sentir pena, pelo seu desespero nostálgico, mas pelo qual não consigo sentir grande simpatia dada a crueldade com que manipula Judy e a ignora enquanto pessoa.
Judy, por outro lado, acaba por ser quem me inspira mais simpatia. Apaixonada por John, deseja ser amada por quem é mas, no que se pode considerar um derradeiro sacrifício por amor, deixa-se (re)transformar em Madeleine. Judy anseia pelo amor de John, satisfazendo-se mesmo com este vendo-a como outra pessoa. Mas isso é impossível, pois sendo Madeleine uma criação sua feita para enganar John no início do filme, é também uma idealização que este foi criando enquanto a seguia. Por isso, Judy, que foi Madeleine, nunca conseguirá ser a Madeleine de John. E Kim Novak tem uma performance notável, pois consegue mostrar-nos uma Madeleine reinventada que não é exactamente a Madeleine do início - continua a perceber-se a Judy por baixo, no seu olhar para John.
Enfim, tanto mais que se podia dizer sobre Vertigo: que o personagem de Stewart, na sua obsessão em modelar Judy na sua mulher ideal, é um espelho de Hitchcock e da forma como este pretendia controlar as suas actrizes/musas; que o filme é um ensaio sobre a identidade; que a subida ao campanário, no final do filme, é uma alegoria à lenda de Orfeu, que desceu ao submundo para recuperar a amada perdida - e como Orfeu, John perde-a segunda vez e em definitivo quando chega ao topo.
Vertigo é uma das grandes obras do Cinema e a prova de que Hitchcock não foi apenas um grande realizador de suspense - foi, sim, um grande Artista.
Totalmente de acordo com tão bom comentário João Sousa. Obrigado! Vertigo é top cinema! Veneração total!
ResponderEliminar