Com "The Dark Knight Rises" a aterrar hoje nas salas de cinema portuguesas, nada como fazer um rewind a esta saga de Christopher Nolan e onde irei tecer algumas observações em jeito de pseudo-reflexão aos dois filmes, "
Batman Begins" e o "
The Dark Knight".
Ora bem... eu vejo as duas incursões de Nolan ao mundo de Batman, como distintas e com méritos diferentes. E acredito que o terceiro capítulo também o será.
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O melhor visual do Batman, continua a ser o proposto no "Batman Begins"... mas isto sou eu a dizer! |
Com este culminar em trilogia, a escolha do Bane para vilão, deu para o Nolan direccionar esta saga a culminar numa trilogia (eu sou dos que acredita que isto nunca foi pensado ser uma trilogia, como agora parece ser... e acabou por se tornar mesmo!), só reforçou ainda mais a minha observação sobre o que me representa esta saga de Nolan. Ele construiu não uma narrativa de BD natural mas sim algo desviante como, no meu tempo, representavam as graphic novells (que eram diferentes abordagens em universo extra).
Não é á toa que agora a DC Comics/Warner Bros há-de realinhar de novo o Batman a outra direcção... e por isso o Nolan ser afastado, pois é necessário ter um outro Batman que melhor encaixe na timeline da Liga da Justiça. É que o chamado "Nolan-verse", com toda aquela hiper-realidade, coloca-se numa posição que até recusa os mundos de fantasia implícitos no universo-alargado da DC Comics. Bem mas esta é uma outra conversa que agora não interessa para nada...
Acho o "The Dark Knight" como uma verdadeira obra-prima de filmes com super-heróis e super-vilões. Contudo, com o tempo olho para o TDK como um filme onde na verdade há menos o factor super-herói do que todos os outros que já surgiram, precisamente por ele ser mais uma abordagem á psique de pessoas que querem mudar o seu próprio mundo. Depois o TDK, parece-me actualmente ser menos Batman do que realmente aprecio e se espera, que é ver o triunfo da personagem principal. Nele Batman parece mais o impulsionador de tudo mas não o capitalizador, pois é o Joker quem rouba o filme (no filme de Burton as personagens empatavam mas aqui Batman perde mesmo). Facto que me tem corroído gradualmente quando o revejo. Depois porque também Nolan abandona neste filme as encenações icónicas que homenageavam o Batman (as poses, os morcegos à volta dele, o imaginário clássico, a revitalização de Frank Miller, etc).
E é apartir daqui que quando revejo o "Batman Begins" sinto um prazer extra e mais recompensador (o fato é mais parecido com o que conheço dele, é exibida aquela pose de gárgula nas pontas dos edifícios, o rodear-se por morcegos, a batcave, etc). Begins é um puro filme de Batman, ou seja totalmente centrado em Batman, é sobre o Bruce Wayne e ainda esboça um mix imenso dos melhores momentos da BD de Batman (ele como detective/vigilante pendurado nas paredes, o sábio uso do disfarce de playboy que só liga aos prazeres da vida como Bob kane o apresentou, etc) tornam "Begins" todo ele mais fascinante pelo foco dedicado á personagem e depois por muito bem saber enaltecer da BD "Ano Um" um Tenente Gordon como uma personagem de relevo (ou seja, inteligente e não um mero policia decorativo - na versão de Burton ainda surgia como o Gordon dos tempos clássicos).
Begins é um filme, cuja engrenagem caminha emocionantemente até ao apresentar da carta do Joker. Sempre imparável. O TDK é mais que um filme de super-heróis e hoje acho ainda que foi uma pena o desperdiçar do Two-Faces numa vendetta pessoal, que sai até imensamente ofuscado pelo soberbo Joker de Ledger.
Na práctica, Begins é um verdadeiro filme de super-heróis, onde somos brindados com o "path of the hero" (a origem e a sua jornada para defender o bem).
Todos os filmes que usam o "path of the hero" safam-se sempre (Matrix, Superman, Spiderman, Iron Man, etc) mas espalham-se nas sequelas depois de não terem mais disso para dar (acredito que é a descoberta que mais cativa o povo). Sendo um habitual problema do que fazer a seguir com a personagem depois de ele estar estabelecido, é é isso que percebo do valor do TDK ao contornar este handycap. Batman pouco mais continuou além dos mesmos moldes em que ficou (quase estagnou) e Nolan dedicou-se então a conceber o inverso, que é o "path of the villain". Neste caso, foi até a dois vilões mas muito mais subtilmente focando-se com toda a precisão no Two-Faces. Nolan foi até premeditado ao claramente, em pleno "Begins" ao apontar já para o Joker, não desperdiçando assim uma boa "cartada", para estabelecer esse mudar de foco (e não é à toa que é o Joker quem mais aparece nos posters... e capas de DVDs, etc).
O Batman afigurou-se no TDK quase como um secundário, em modo trágico (se analisarmos bem, perde a mulher nas duas identidades e o mal chega consegue mesmo triunfar no final - apenas uma inteligente premissa para fazer valer mais o The Dark Knight Rises).
Agora, do TDKR, e falando como se nada soubesse sobre o que aí vem (depois de um intenso ano de marketing diário a debitar-nos indicios), eu espero que o Batman 3 recupere ao heróis, o foco merecido e lhe restitua a glória. Até porque ele tem de se "erguer" do infortúnio da sua condição de vigilante perseguido, o que também representará uma nova abordagem ao estilo "path of the hero" (se pensarmos bem, será até novamente múltiplo) mas aqui numa condição invertida, que é "renascer" da condição de proscrito para a redenção.
E acredito que aquela máxima muito presente ao longo do The Dark Knight, mantenha ainda efeitos para este encerrar daa trilogia. (E quem leu as BDs da "fase Bane", extrapolará ideias):
"Ou morres como um herói ou vives tempo suficiente para te veres tornado no vilão..."
(Obs: acho que me perdi algures... e saiu algo que é mais um devaneio. Acontece!)