A fase das disputas e desentendimentos...
Os Pink Floyd, desde a fase The Wall/Final Cut, já não era própriamente uma banda mas sim um projecto que Roger Waters já entendia como sua propriedade, relegando aos outros membros a mera participação na sua megalomania.
Roger Waters após The Final Cut, pretendia dar o fim à banda Pink Floyd. Afinal alguns membros já haviam até sido despedidos (Richard Wright em 1980) e Nick Mason levado a abandonar também em 1983 (a última faixa do The Final Cut tem já a participação doutro baterista).
Os Pink Floyd estavam terminados e Waters declarava-o com o próprio nome do álbum The Final Cut, o anunciado ópus final.
Os relacionamentos entre todos os membros estava totalmente azedo, tudo devido às posições assumidas por Roger Waters como lider. No entanto, Nick Mason e David Gilmour entendiam que o papel dos Pink Floyd não deveria ter um fim assim e decidiram fazer regressar nome Pink Floyd. Roger Waters não gostou e processou-os em tribunal. Seguiu-se assim uma longa disputa pela propriedade e legado da banda, onde as trocas de azedos impropérios tiveram lugar e definitivamente fez separar Waters de Gilmour.
O tribunal acabou por dar razão a Gilmour e Mason, que poderiam assim voltar a usar o nome Pink Floyd e regressar ás edições discográficas (que o fariam sob a marca legal The Pink Floyd Ltda). Ao mesmo tempo conseguiram ainda recrutar o ex-membro Richar Wright.
O regresso do space-rock...
Em 1987, é lançado para o mercado o álbum que assinala o regresso da banda Pink Floyd, com o muito sugestivo nome:
"A Momentary Lapse of Reason" (1987)
"A Momentary Lapse of Reason" foi originalmente gerado como um álbum a solo de David Gilmour, na altura seria o seu 3º, em 1986 no seu barco Astoria. Gilmour rodeou-se de Mason (que sentia-se já muito pouco confiante para estar á bateria) e mais alguma gente amiga e com o material que já havia criado, desenvolveram o som e as canções para que estas estivessem á altura do legado e nome Pink Floyd. Já em estado muito avançado de desenvolvimento é que, Richard Wright, se juntou a Gilmour e Mason. Apesar de não ter contribuído na criação de material novo, Wright ainda faz background vocals no muito bom tema "Sorrow" e toca nalgumas poucas faixas.
A verdade é que este novo registo, alimentado pelo estilo de Gilmour, que é bem menos político e cerebral que as criações orquestradas no passado por Roger Waters, tenta fazer regressar o space-rock tão característico da banda ano passado em detrimento das opera-rocks dos últimos registos até então.
"A Momentary Lapse of Reason" é um disco muito interessante, e na minha opinião, consegue acrescentar algo novo ao legado já extenso da banda. Não o considero uma cópia ou imitação de sons do passado.
Este álbum, que tem uma excelente e intrigante capa, num momento fotográfico surrealista com camas a perder-se na vista numa praia. Trouxe de certa forma um novo tom poético às letras das canções que se degladiam com uma sonoridade que tenta ser ora perturbadora ora enternecedora. Apesar de muitos o acharem como um álbum da banda muito inferior ao que a banda fez no passado, eu sempre vi nele um álbum bom, refrescante e com intenções de ser a nova identidade deste grupo e o voltar a inscrever-se nas grandes canções espaciais que a banda sempre soube fazer.
video de "Learning to fly"
Se o agradável single da canção "Learning to fly", que imediatamente tomava o mundo (TV e radios), revelava uma nova sonoridade mais contemporânea, é noutras faixas que o valor do disco se faz valer tais como em "Signs of life" (maravilhoso instrumental de arranque), "One slip" (finalmente uma canção uptime e positiva), "On The Turning Away" (a estreia da banda nas baladas), "The Dogs Of War" (perturbadora e muito critica á guerra fria). Por fim aquela que acho a excelência do álbum e um dos melhores momentos Floyd: "Yet Another Movie" (com o apêndice de som circular "Round and Around"), um tema muito imaginativo, repleto de sonoplastia de vozes de cinema.
"A Momentary Lapse of Reason" é também o primeiro registo dos Pink Floyd gravado já inteiramente em digital e talvez esse seja um dos seus maiores pecados pois a evolução técnica da altura na captação do som, faz parecer que as canções soem muito contidas ou super-produzidas.
Este álbum tem ainda características curiosas e únicas na discografia: tem um tique sonoro que o localiza instantaneamente no tempo e na década de 80, a bateria cheia de eco. As percussões e baterias são tocadas com som forte, poderosas e metálicas, com muito eco e de certa forma uma bateria obtida em muitas situações por programações de caixa de ritmos.
Outro facto é que ter duas faixas muito à capella (novidade). Sendo estas practicamente sem uso de instrumentos (ouvir as "A new machine" partes 1 e 2 -pertubadoras) onde entre as duas, se escuta um instrumental com o um forte solo de saxofone (e não de guitarra), como se a música tivesse sido separada e tornado independente das vozes.
O álbum só peca por ser curto e dar a sensação de ter poucas canções. Efectivamente até que é verdade pois podem se considerar ter apenas 5 canções, acompanhadas de instrumentais e experiências vocais.
A verdade é que toda a desconfiança sobre a banda Pink floyd sem Roger Waters, se dissipou com o lançamento do álbum pois estes agora já simbolizavam o futuro. Mesmo assim recebeu muitas criticas negativas precisamente por esse facto da ausência do anterior líder que dava uma dimensão mais conceptual aos discos. Também foi criticado por Waters que afirmava que tinha apenas um nome interessante mas que as canções eram apenas um fac-simile do passado.
Mas o passado... já era passado e estes é que marcariam o que iria vir por aí.
O monstro apresenta-se novamente ao vivo...
"A Momentary Lapse of Reason" originou também, o regresso dos Pink floyd aos concertos. A banda em palco, composta pelos 3 famosos membro, rodeava-se de imensos músicos também para poder reproduzir ao vivo todos os detalhes da complexidade da banda. Era o regresso da banda a tocar ao vivo e sabia que milhares queriam voltar a reviver o sonho. Nada como fazer tudo a uma escala gigante, verdadeiramente extasiante e memorável. e memorável significa igualmente voltar a tocar os grandes hits do passado para gerações, que pela vontade de Waters, estavam condenadas a nunca mais voltar a ver e a ouvir a banda em palco. E foi isso que a banda deu!
Desta tour que passou por vários países do mundo em 1987/1988, resultou um novo álbum duplo e ao vivo, que era algo que faltava oficialmente no catálogo da banda.
"Delicate Sound Of Thunder" (1988)
Um novo álbum ao vivo, significa igualmente dar ao mundo uma prova da capacidade dos "novos" Pink Floyd. Ao mesmo tempo que serve igualmente de uma forma diferente de pôr no mercado uma colectânea de sucessos, já interpretada pela nova versão da banda. Isto significa fazer ouvir de novo todos os clássicos mas já cantados totalmente pela voz de David Gilmour, que já se assumia como o novo líder. E dizer a voz é pouco... pois todos os temas no duplo ao vivo soam renovados igualmente.
De certa forma, acaba por ser um álbum memorável, não só pela capa do "homem das lâmpadas" mas também pelas versões das canções e do alinhamento. Na minha opinião, todas as canções originais do "A Momentary Lapse of Reason", soam aqui muito melhores e até mesmo mais fabulosas e soltas que no álbum. "Learning to fly", "The Dogs Of War", "On The Turning Away" e a magnifica "Yet Another Movie", ficaram mesmo bem executadas ao vivo e muito mais ricas sonoramente.
"The Dogs Of War"
"On The Turning Away" (1988) - uma balada à Floyd...
E não se ficaram por aqui pois as presentes re-interpretações dos clássicos, soam contextualizadas nos novos tempos. Na minha opinião, soam até com menos nervo mas com uma nova alma muito mais madura.
Para as gerações que viveram na época do dos clássicos de ouro: "Meddle", "The Dark Side Of The Moon", "Wish You Were Here" e "The Wall", ouvir estas interpretações não trazia nada de novo ou de melhor que os originais. Para mim a verdade, é que para as novas gerações que estavam a descobrir Pink Floyd, este duplo álbum ao vivo serviu de excelente cartão de visita (durante anos) ao mundo Floydiano, deixando inclusivé marcas na percepção de qual são as versões melhores e definitivas das canções.
Digo isto porque o "disco das lâmpadas" ofereceu magia épica em "Shine On You Crazy Diamond", umas potentes como nunca "One of These Days" e "Run Like Hell", as impressionantes "Confortably Numb" e "Us And Them" revistas como se fossem baladas modernas num registo ligeiramente mais lento, chegando mesmo a serem sedutoras e charmosas como nunca se imaginaria.
Mas a surpresa maior acontece com "Wish You Were Here" que soa pop como nunca se ouviu, onde a voz melódica de Gilmour lhe empresta um sentido mais orelhudo do que era, devolvendo esta canção ao povo (imensa gente passou a saber até tocar e cantar esta canção), dando novo interesse a novas gerações não acostumadas à banda.
"Wish You Were Here" (1988)
Os concertos eram mesmo fabulosos, daqueles que faziam as cadeias televisivas parar as suas programações para emitirem á escala global um concerto grátis que deram em Veneza.
Onde o mundo os viu actuar numa plataforma construída sobre as águas da lagoa em frente á praça de St. Marks de Veneza, totalmente cheia com mais de 200.000 pessoas e visto pela TV por mais de 100 milhões.
"Yet Another Movie" -em Veneza, 15 de Julho de 1989
Este concerto também trouxe dissabores a Veneza, pois apesar de terem tocado num nivel de som mais baixo que o habitual alguns monumentos não aguentaram e deterioraram-se, levando a que os responsáveis pela cultura da cidade se demitissem e se decretasse nunca mais repetir eventos culturais do género.
"Delicate Sound Of Thunder" além das edições em cassete, vinil e CD (na altura um enorme luxo), saiu também como um filme-concerto muito interessante e que registava o que fizeram em palco na altura. Com muita pena, além do VHS (cassete em stereo hi-fi que adoro ver quando posso) e do já extinto LaserDisc, este video-concerto nunca foi editado em DVD. Talvez porque eles achem que a edição de "Pulse" seja a definitiva prova do que foi Pink Floyd ao vivo...
Eu acho que se justificava relançarem a edição DVD de "Delicate Sound Of Thunder", principalmente porque é um registo histórico e também por ter um alinhamento deveras interessante.
Pink Floyd passaram a ser além de míticos... também algo muito chique, um grande acontecimento.. e o mundo queria mais!
Onde o mundo os viu actuar numa plataforma construída sobre as águas da lagoa em frente á praça de St. Marks de Veneza, totalmente cheia com mais de 200.000 pessoas e visto pela TV por mais de 100 milhões.
"Yet Another Movie" -em Veneza, 15 de Julho de 1989
Este concerto também trouxe dissabores a Veneza, pois apesar de terem tocado num nivel de som mais baixo que o habitual alguns monumentos não aguentaram e deterioraram-se, levando a que os responsáveis pela cultura da cidade se demitissem e se decretasse nunca mais repetir eventos culturais do género.
"Delicate Sound Of Thunder" além das edições em cassete, vinil e CD (na altura um enorme luxo), saiu também como um filme-concerto muito interessante e que registava o que fizeram em palco na altura. Com muita pena, além do VHS (cassete em stereo hi-fi que adoro ver quando posso) e do já extinto LaserDisc, este video-concerto nunca foi editado em DVD. Talvez porque eles achem que a edição de "Pulse" seja a definitiva prova do que foi Pink Floyd ao vivo...
Eu acho que se justificava relançarem a edição DVD de "Delicate Sound Of Thunder", principalmente porque é um registo histórico e também por ter um alinhamento deveras interessante.
Pink Floyd passaram a ser além de míticos... também algo muito chique, um grande acontecimento.. e o mundo queria mais!
Conseguiria a gigantesca máquina Pink Floyd dar ainda mais, maior e melhor?
Sim e de que maneira pois conseguiram-no fazer 6 anos depois... mas isso já é outra história.
Sim e de que maneira pois conseguiram-no fazer 6 anos depois... mas isso já é outra história.
Reveja outros artigos relacionados com a banda Pink Floyd ou David Gilmour ou Roger Waters
4 comentários:
Olha que post tão bom e que blog tão porreiro... E nem 1 comentário?! Cá vai a minha homenagem, continua com o bom trabalho que já tens mais um fã :)
Muito, mas muito, obrigado pela simpatia e por ter "inaugurado" com um comentário este artigo, que me deu muito gozo e prazer fazer (é o que sei e muito pouco é baseado em fontes externas - algumas datas e/ou locais de concertos). Sempre achei estranho nunca comentarem este artigo mas como é sobre música... raramente surge alguém em sintonia.
Tenho pelo blogue muitos mais artigos dedicados á banda. Não tenho tudo o que gostava ter já publicado (outras fases dignas de relevo) mas, quem sabe um dia...
Agradeço a simpatia e recomendo desde já que use a etiqueta Pink Floyd pois mais artigos encontrará sobre a banda.
Caramba, que post! hahaha Tenho 17 anos e infelizmente não vivi na época de lançamentos dos "grandes albuns", dos quais o meu preferido é The Wall, que considero sendo apenas uma faixa, extensa e perfeita, e inflizmente não consegui ir no show do The Wall do Roger Waters aqui no Brasil :/ Espero que tenham outros haha Otimo post, mesmo visto 2 anos hhahaha Abs!
Parabéns pelo material. Show ...
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