Se para a "tríade nuclear", Portishead, Massive Attack ou Tricky, ao se dizer que faziam trip-hop os fazia sentir quase ofendidos, por acharem este um género redutor (curiosamente desde esse ano de 1998, que estes refizeram o seu som de forma mais afastada das suas origens). A verdade é que outras bandas e artistas, o fizeram igualmente ao também acabarem por renegar a sua origem, quando lançaram novos registos ou após os primeiros lançamentos.
"Blue Lines" (1991); "Dummy" (1994); "Maxinquaye" (1995)
Se desde cedo se percebeu que do trip-hop se podia partir para algo mais, facto bem provado no disco que fundou a sonoridade (o magistral "Blue lines" dos Massive Attack de 1991), rapidamente o mesmo foi acontecendo com o novos projectos que surgiram, chamados de pós-trip-hop.
Já na curva descendente do trip-hop, começaram a surgir em 1998 alguns projectos que se movimentavam no que se já apelidava por "pós-trip-hop". Ou seja partiam das mesmas técnicas e ambientes mas eram projectos menos dolentes (ou não), usavam ainda mais referências sonora e secções rítmicas mais aceleradas que o downtempo. O trip-hop já moribundo vê-se substituído por algo mais rico e já incatalogável.
Eu penso que nem uma coisa nem outra pois para mim o trip-hop evoluiu. Depurou-se ao ser exposto a mais ideias e estéticas.
Não é de todo descabido então juntar-se num mesmo caldeirão, com a tríade nuclear, gente como:
Morcheeba, Jay-Jay Johanson, Coldcut, Archive, Waldeck, Moloko, Perry Blake, Koop, Alpha, Lamb, De-Phazz, Goldfrapp, UNKLE, Ilya, Nitin Sawhney, Bjork, Tosca, Thievery Corporation, Zero 7, os portugueses The Gift e Coldfinger, etc.
Cada qual trazia um novo ar e juntaram-se assim muitas mais características como sons orientais, breakbeats gordos, drum'n'bass refinados, cantos mais eruditos a roçar o lírico, vocalizações à crooner, ritmos latinos, electro, as malhas pesadas do rock, etc... Cada qual podia descair para outros géneros e muitos deixaram de vez o trip-hop para abraçar em definitivo um só estilo. Nomeadamente alguns, como por exemplo, o electro (Goldfrapp, Jay-Jay Johanson), a pop (Morcheeba, De-Phazz) ou o jazz principalmente (Koop, Waldeck, etc), entre outros.
Mostraram que tudo se pode juntar a este som.
Ao mesmo tempo que muitos mais artistas como estes apresentavam o seu "take" e visão sobre as possibilidades que esta sonoridade permitia, o género avançava e descaracterizava-se. Inclusive uma grande parte até trocaram as máquinas e as programações, por instrumentos reais e os colectivos a passarem a bandas. Mesmo assim ainda hoje conseguem-se identificar os tiques e as ambiências das origens. Especialmente, o saber fazer canções ainda com recorte clássico, com charme e rica nos detalhes.
O trip-hop nunca morreu.
Tranformou-se.
Dissolveu-se...
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1 comentário:
Texto realmente muito esclarecedor. Eu comecei a escutar trip hop graças ao Portishead (acho que a maioria de nos, fans do gênero, nos iniciamos com Portishead) e ao ouvir o Third pela primeira vez fiquei com uma pulga atrás da orelha. O som era «estranho» demais pra classificar como trip hop. O problema começou a me aparece quando descobri que a maioria dos artistas do gênero, surgidos nos 90, parecem «desobedecer» a sonoridade original, oq me fez pensar que o trip hop é um som datado (vim parar no seu texto com a seguinte pesquisa no google: «trip hop morreu»). Depois de ler seu texto, meio que descobri o ponto chave: trip hop não se classifica tanto pelo som, está mais pra um sentimento: aquele que, quando inicia uma chuva, te faz parar oq estiver fazendo pra escutar Roads.
Leonardo S.
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