sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Cine-critica: Assim Assim (2012)

Assim Assim
(2012)

Realização: Sérgio Graciano

Sinopse: "Cinco personagens cruzam-se numa esplanada dando início a uma viagem pelas suas vidas. “Assim Assim” é um filme sobre relações, sobre aquilo que queremos para nós e o que não conseguimos alcançar. Entre boas e más relações, amores e complicações, tudo pode acontecer."



Ora bem...

"Assim Assim" insere-se numa toada indie e do cinema falado (e até mesmo ambientado no mumblecore) que muita falta faz no cinema português com mais evidencia, que aqui o faz notar mais pelo mega elenco que nos apresenta (destaque para Ivo Canelas e Joana Santos).

Construído em torno de abundantes diálogos, cedo percebemos que algo se quer expor por aqui. Formalmente demonstra que o Cinema pode abraçar de diferentes formas, ser mais simples em detrimento de virtuosismos sem com isso ser algo inferior pois "Assim Assim" é uma obra humilde mas com alcance aonde quer chegar. E chega lá com uma precisão metódica de quem sabe ter um ponto de vista pluralista e sem ser hipócrita.


O filme não segue o padrão de ter personagens principais, aliás faz por descartar isso ao nos fazer seguir as diversas realidades das muitas personagens que faz desfilar, sendo que se emaranham umas nas outras subtilmente por aquilo que é o motor do filme: as relações dos casais. Demonstra ainda que as decisões de alguém conseguem afectar as vidas de muita gente.

Numa das sinopses mais completas (da RTP), que funciona mais como reflexão do filme (e é isso que também é o filme) é bem referido o seguinte:
"As relações são complicadas, porque as pessoas pensam demasiado, porque habituaram-se a analisar os sentimentos. Todos os dias a mesma busca pela felicidade, mesmo que tenhamos esvaziado de conteúdo essa palavra. No fundo já ninguém acredita no amor. Porque se estamos felizes pensamos logo que será por pouco tempo, tratamos logo de travar essa euforia, como se soubéssemos que depois de um momento desses resta-nos descer ao mundo das desilusões. E complicamos a nossa vida, e a dos outros, sabotamos constantemente a nossa felicidade porque a plenitude que sentimos é demasiado intensa e já não estamos habituados a lidar com sentimentos profundos. E nem no amor encontramos redenção, nem aí conseguimos sentir-nos completos porque há sempre alguma coisa que está a mais, ou que falta, há sempre um pequeno defeito que estraga o momento para que possamos dizer em voz alta “eu sou verdadeiramente feliz”."

Consegue ainda levemente tocar outros pontos condicionantes, que são as características pessoais destas pessoas colocando em subtextos o racismo, o afastamento dos amigos, o efeito das separações, o efeito da família, o carácter, a homofobia, questiona a honestidade, a rivalidade num casal proveniente do sucesso individual alcançado, a violência conjugal, a velhice e a solidão.
Nota positiva, além do mega-elenco, para a montagem, a iluminação (as cenas são quase sempre nocturnas), a banda-sonora (e uma interessantíssima canção, tema-título que nos brinda no fim) e sobretudo a naturalidade realística com que as conversas (as falas de cada personagem) que dão uma dimensão bastante humana ao que aqui desenrola.
Poderia apontar como pontos que o melhoravam: o filme poderia ter prestado mais espaço a pausas meditativas das personagens, desenvolver partes silenciosas mais dedutivas do que proferidas, e inclusive desenvolver algumas situações de algumas personagens, que acaba por ser acelerado no desfile de conversas no desenvolvimento deste puzzle. Mesmo assim, achei-o cativante de seguir.


Concluindo, é um filme que coloca em cena uma multiplicidade de vidas que, apesar de tão diferentes, todas procuram algo em comum: tentar ser felizes.
Gostei.

Classificação:
7/10
Bom

Sem comentários: