Et maintenant, on va où?
E Agora, Onde Vamos? / Where Do we Go Now?
(2011)
Realização (e co-argumento) de: Nadine Labaki
Com: Nadine Labaki, Claude Baz Moussawbaa, Leyla Hakim e Yvonne Maalouf
Sinopse (via Split Screen): "Numa aldeia remota do Líbano vive uma comunidade dividida entre a religião cristã e islâmica. O lugar, rodeado por minas terrestres, tem apenas uma velha ponte que o liga às outras comunidades da zona. À medida que a guerra se agudiza no país, as mulheres da aldeia, fartas de fazer o luto pelos seus maridos e filhos, decidem boicotar a informação que lhes chega, destruindo o rádio e televisão comunitários. Porém, até então, e apesar das divergências religiosas, os seus habitantes vivem pacificamente a sua fé.
Contudo, um evento vem contrariar aquela tranquilidade e os homens começam a disputar direitos e deveres, criando uma divisão entre os dois grupos religiosos num ambiente de tensão que cresce de dia para dia. É então que as mulheres, habituadas a conduzir os seus homens de uma maneira peculiar, de forma a desviar a sua atenção daqueles conflitos que ameaçam pôr em causa as boas relações entre todos, decidem contratar um grupo de dançarinas ocidentais e drogá-los com bolinhos de haxixe enquanto escondem todas as armas da aldeia...
Segunda longa-metragem da actriz e realizadora libanesa Nadine Labaki, depois do enorme sucesso de "Caramel" em 2007, uma comédia dramática sobre as divergências de um povo marcado pelos conflitos religiosos que venceu o Prémio do Público no Festival de Cinema de Toronto e foi a escolha do Líbano na corrida à nomeação ao Óscar de melhor filme estrangeiro."
Ora bem...
Uma obra com visão feminina e é precisamente essa a sua maior valia. Com graciosidade e charme, somos envolvidos no seio de uma aldeia, que apesar de distante da guerra, nela coabitam, em falsa paz, dois povos com profundas e incompatíveis diferenças religiosas.
Diferenças fundamentalistas e mortais, que tornaram uma aldeia cujas mulheres já só existem para zelarem o luto pelos seus mortos. Estas mulheres decidem-se a alterar o rumo da vida diária e se cada solução não produz os resultados esperados, estas decidem-se pelo radicalismo pacificador.
Agradável o trato, apesar de as mudanças entre drama, comédia e musical não serem perfeitas, o certo é que consegue ser refrescante e espicaçar tremendamente a curiosidade a onde quer chegar. E realmente atinge uma resolução mais pacifica do que todas as rebuscadas ideias até então.
Uma forma muito interessante de cativar espectadores a sentirem o impacto do fundamentalismo religioso, que estes povos vivem, onde a autora libanesa Nadine Labaki, escreve, realiza e interpreta, procurando e sugerindo ideias de união servindo-se do poder do cinema. Pode parecer ingénua na sua abordagem mas o maior mérito de Nadine, é trazer a este mundo de homens que cultivam a ignorância, que são religiosamente intoleráveis (e ainda assim manipulados pelas mulheres para se evitarem mais mortes), confrontando tudo isso com uma visão feminina, de certa forma com um positivismo a esta realidade tremendamente negativa, sabendo criar comédia onde não existiria. Pelo meio, vai desafiando as próprias convenções de duas realidades tão opostas, logo partindo do facto de juntar numa mesma aldeia os seguidores de Deus e os seguidores de Alá, com mentalidades fatalmente opostas, mas que no processo desta obra, conseguem encontrar razões que os unem.
Um filme nada snob e muito mais honesto do que parece, que deixa bem impressa a sensação de dia-a-dia daquelas pessoas. Tivesse uma maior focagem narrativa, um maior equilíbrio formal de forma a ser ainda mais dramática e estaríamos na presença de um superior filme. Não o achei por pouco mas tenho noção de que tem tudo aquilo que faz os bons filmes. Não é à toa que tem sido muito badalado pelos imensos festivais de prestigio que já participou e inclusive já vencido prémios (com muito mérito).
Vale a pena descobrir!
Classificação:
6,5/10
Muitíssimo interessante