terça-feira, 30 de outubro de 2012

Cine-critica: Quinze Pontos na Alma (2011)

Quinze Pontos na Alma
(2011)


"Simone é uma mulher que tem tudo... O marido perfeito, os amigos perfeitos, a casa perfeita... Mas num instante tudo muda. Por vezes ter tudo não chega."

Realização: Vicente Alves do Ó

Com: Com: Rita Loureiro, João Reis, Marcello Urgeghe, Dalila Carmo, Carmen Santos, Ivo Canelas, Júlia Correia-Lagos, Rui Morisson, Ricardo Silva, Miguel Ferreira, Ana Lúcia Palminha, Cristina Vilhena, Filipe Vargas, Ana Moreira e Luís Lucas.

Sinopse (via RTP):
"Lisboa. Princípio da noite. Um dia igual aos outros. Simone sai do trabalho atrasada para uma festa. Tem vinte minutos para chegar a Oeiras. Assim que entra no Viaduto Duarte Pacheco, vive um estranho acontecimento irá mudar a sua vida para sempre. Um homem de trinta anos, Guilherme, está pronto a saltar. Simone sai do carro e aproxima-se tentando salvá-lo. Qualquer coisa os une. Um beijo. Simone abre os olhos mas já não o vê. Ficou com o último beijo deste homem que agora quer conhecer. Agora, numa cidade repleta de mistérios, Simone tenta descobrir quem é aquele homem, vivendo uma aventura para lá da sua imaginação. Um mistério que se transforma em obsessão. Simone introduz-se na família de Guilherme e faz-se passar por namorada, amante, mulher procurando conhecer o homem que nunca chegou a ter. Simone tinha um marido, uma casa, uma vida perfeita. Agora tem um sonho que não pretende deixar fugir mesmo que isto signifique deixar tudo para trás. Guilherme é o resgate do sonho, do perigo, do desafio, porque às vezes ter tudo não chega."

Trailer:


Ora bem... este é um filme português bastante interessante.

Uma obra portuguesa muito artística, de certa forma ancorada em memórias cinéfilas (para quem já viu muita coisa), tanto visualmente como a nível da pontuação sonora, que criam um todo pastiche clássico-moderno que mais desenboca progressivamente num gigante exercício de estilo, do que num filme que realmente conte efectivamente uma história. No fundo, o argumento é em si muito críptico, com poucos avanços narrativos mais parecendo o trio de personagens ligadas a malogrado Guilherme existirem num vácuo existencial já em si muito idílico.


A realização é sumptuosamente obsessiva na arte de recriar a visão de mestres como Hitchcock, sobretudo o estilo deste realizador, onde neste caso é gritante o recorrer das ideias visuais e do savoir faire da obra-prima "Vertigo", que especialmente surge bastante evocado no requinte da caracterização da actriz principal, cujo guarda-roupa e penteados são indesmentíveis de tão evocados.
O mesmo pode ser igualmente dito da banda-sonora, que por várias vezes é excessiva e se sobrepõe em demasia sobre a construção visual, surgindo mesmo nalguns casos fora de tom (não muitos).
Digno de registo é o serviço de cinematografia (fotografia), que confere a esta obra uma deliciosa aura sumptuosa e de retro-modernidade.


A representação é de linhagem muito teatral, por vezes muito artificial até (que é o caso do actor Marcello Urgeghe), à excepção de 3 actores do elenco: a actriz principal Rita Loureiro (excepcional toda a sua performance e de grande presença), a amiga Dalila Carmo (faz muito com tão pouco) e o fotografo Ivo Canelas, que conseguem com sucesso transformar as falas em performances credíveis, ou seja o português falado de forma natural.


Concluindo, o filme consegue cativar por colocar uma tónica de mistério, joga com a ambivalência da personagem do irmão do desaparecido Guilherme e tudo isso enquanto constrói um contemplativo mundo moderno quase retro num ambiente de riqueza e luxo, bastante ostentativo.
Mais que um filme é na verdade um interessantissimo exercício de estilo bastante arty, escrito e realizado por Vicente Alves do Ó, que demonstra que o autor tem visão mas que peca por afigurar nesta obra, um tom supérfluo e algo oco.
Daqui sobressai a magnifica fotografia e o exacerbado design de produção que são deliciosos.
"Quinze Pontos na Alma" apenas peca por lhe faltar substância narrativa... porque em "mood" e "style" é um assombro assinalável. Com mais substância e profundidade teria sido um grande filme cheio de glamour.


Classificação:
6/10
Interessante

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