terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Cine-critica: The Outlaw Josey Walles (1976)



The Outlaw Josey Walles  /  O rebelde do Kansas
(1976 - IMDb)

Realizador: Clint Eastwood
Com: Clint Eastwood, Chief Dan George, Bill McKinney, Sondra Locke...

Clint Eastwood realiza e protagoniza este magnifico western de recorte clássico. "O Rebelde do Kansas" mostra a busca de justiça pelas próprias mãos de um pobre homem, Josey Walles, que de repente e sem nenhuma razão, perde tudo perante um grupo de bárbaros: a família (o filho ainda criança e a sua mulher), a casa e todos os seus bens.


Josey Walles, sedento de vingança e sem nada, parte no encalço do grupo e isso acaba por se tornar numa enorme odisseia de redescoberta pessoal. Josey Walles é um solitário, de pouca ou nenhuma conversa mas que se percebe do seu interior as convulsões do desgosto ao mesmo tempo que aparenta ser alguém calmo e de poucas palavras.
A sua jornada coincide com os tempos de guerra civil entre Norte e Sul, onde pelo caminho se vê obrigado a juntar aos tropas. É num desentendimento entre facções que ele decide se virar contra os Yankees, pois se vê no meio de uma estratégia para acabar com o seu grupo e com uma potente arma automática (de manivela) ele decide se virar contra eles (e com a ajuda de outros membros) arrasar com o acampamento, acabando por reconhecer o bando que lhe matou a família. O bando foge e ele igualmente, tornando-se num desertor, complicando ainda mais a sua condição. Contudo, o desejo de vingança colocam-no novamente na sua jornada.


A jornada acaba por não se fazer solitária pois conhece um velho indio, também ele na condição de excluído e sem nada, que se decide a o seguir e se torna seu companheiro. Sucessivamente vai conhecendo pelo seu caminho em direcção a Oeste, com uma india (que a salva duma injusta escravatura e consequente violação) que se torna igualmente uma sua seguidora por razões de honra. Também se deparará com um jovem aventureiro, que é mais gabarola do que parecia e por quem Josey Walles assume uma atitude quase paternal e até mesmo um cão, que o segue fielmente. Juntos nesta odisseia rumo ao Oeste, defrontarão diversas adversidades e inimigos pontuais, incluindo uma família que haviam conhecido numa civilização, que se encontra numa emboscada de ladrões e... Josey Walles decide proteger a indefesa mãe e a sua pura bela filha. Tudo isto conduzindo-se sempre no encalço daqueles que lhe restam cumprir a sua sede de vingança, conduzindo-se a um inevitável duelo final.



O que mais apreciei neste filme de Clint Eastwood, é o sentido de jornada que representa as voltas que a vida dá. São momentos destes que mudam uma pessoa e o sentido da vida, de alguém inconformado com a tragédia que se lhe abateu à sua vida calam e pacata. Um solitário com uma causa, que se vê gradualmente com um crescente apoio humano, de gente que à sua maneira têm também algo em comum. Na realidade, são pessoas sem ninguém como ele, igualmente carentes de humanidade e um rumo, que se redescobrem entre si pela possibilidade do conforto e empatia humana onde menos se esperaria.


É uma bela história, um belíssimo western de redenção com verdadeiras personagens, onde por vezes a falta de detalhes imediatos de cada uma, se vai intuindo e lentamente conhecendo melhor. Muitas das vezes percebemos mais pelos gestos, olhares, atitudes e conduta do que propriamente pelas poucas falas de cada um (ou fica por falar). Faço também uma importante referencia ao velho índio que o acompanha pois é uma daquelas personagens e tanto. Daqueles que diz muitas coisas acertadas, por vezes bem divertidas (um grande contraste com a personagem de Eastwood) e que é uma performance muito interessante do actor.


Como western nada lhe falta, a começar por um Eastwood que parece consciente dos seus trabalhos anteriores, cuja carreira marcante tem nos incontornáveis "O Bom, o mau e o vilão" e "Por um punhado de dólares", alguns resquícios. É um western repleto do imaginário tão característico, desde as pequenas cidades abandonadas, índios, perseguições em grandes cavalgadas, travessias de rios, grandes tiros e bons duelos de balas cruzadas... só que aqui à mistura num argumento cujas subtilezas e subtextos o tornam em algo melhor do que à partida seria de supor.
Ahh... e nem as célebres desafiadoras cuspidelas para o chão estão ausentes.



Este filme é admirável, a realização de Eastwood é sem virtuosismo mas plenamente eficaz. Aqui se percebe até melhor a força de certas motivações que Clint Eastwood continuaria a dotar em muitos filmes posteriores a este. Refiro-me claro ao "Imperdoável" de 1992, pois com alguma imaginação mais rebuscada até se poderia quase ver este "Rebelde do Kansas" como uma espécie de prequela aparentada (entenda-se que não têm relação alguma sequer... mas no Oscarizado filme de 1992, encontramos um cowboy já velho mas com um passado atribulado que bem poderia ter sido este).

Uma boa surpresa este filme, que é bem melhor do que esperava obter e continuamente cativante até ao fim.
Este "O Rebelde do Kansas" é bem bom e merece ser descoberto!

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