quarta-feira, 26 de março de 2008

Portishead: sobre o Third e video de Machine Gun

Depois de ter abordado os dois álbuns de estúdio "Dummy" e "Portishead", respectivamente de 1994 e 1997, vamos passar para aquele que é o terceiro álbum da banda Portishead, "Third", que quebra o jejum das edições de originais em 11 anos.

Já ouvi bastas vezes o "Third" e é um álbum totalmente diferente dos anteriores mas ao mesmo tempo percebe-se claramente que são na mesma os Portishead. Esta banda tem muita personalidade na sua abordagem única à música e essa é a sua grande marca inconfundível e que lhes confere o reconhecimento de estarmos na presença de algo deles.


O que posso adiantar sobre "Third" é que instala uma nova direcção, talvez óbvia a quem seguiu atentamente as pequenas "farpas" que a banda foi lançando nestes últimos 10 anos, mas que poderá surtir um efeito de total estranheza a quem se deliciou com o periodo 94 a 98.
Meus amigos: preparem-se muito que o som agora não é o mesmo!!!

É muito menos trip-hop ou electrónico e muito mais um som que poderemos identificar pelos periodos do rock psicadélico e experimental (influências mais uma vez dos Pink Floyd de "Ummagumma" 1969), dos primórdios da música electrónica baseada nas repetições de sons maquinais e dos sintetizadores. É mais rock que nunca mas um rock que a determinada altura me fez voltar a sentir as sensações das primeiras obras dos Sonic Youth, dos The Can (eram maravilhosas as longas faixas destes tipos), Spacemen 3 (meu Deus, já não há nada disto hoje) e a atitude sm medos á lá Velvet Underground.
Na verdade o que se passa em "Third" poderemos identificar no caso dos Radiohead quando lançaram "Kid A" após a obra-prima do rock dos anos 90 "OK Computer" (obviamente dos Radiohead, claro). Todos os fãs estranharam mas mais tarde reconheceram o mérito do "Kid A".

"Third" é um disco estranho que requer muitas audições inteiras para ser compreendido. Foi isso mesmo que fui sentindo após a primeira audição: "Mas que merda vem a ser esta?! Mas deixa lá ouvir isto de novo..."
Ahh pois é! Este disco por vezes parece descambar para o que sempre fizeram como logo de seguida tudo é subvertido de forma quase caótica e deslocada do nosso tempo.

"Third" vive no difícil fio-da-navalha da obra que nos desnorteia sem sabermos dizer de imediato se é bom ou mau. É estranho, como dizia, mas que com as audições seguintes se vai entranhando no nosso consciente como um assalto mental.
É uma som único no panorama musical dos nossos dias e original na sua intemporalidade. "Third" continua a trilhar os mesmo caminhos melancólicos mas desta vez de uma forma tanto feroz e contundente como suave e terno. O scratch desapareceu, o som fritado do vinyl também e percebe-se que as faixas não estão tão polidas como antigamente assumindo-se muito agrestes e rudes no primeiro impacto.

Em tempos (há mais de 10 anos) li-a nas descrições cinéfilas do Sr. Jorge Mourinha (ainda no ex-jornal Blitz - hoje no jornal Público), a noção de que normalmente estamos na presença de uma obra-prima quando saímos á "toa" da sala de cinema, totalmente siderados pelo filme num estado de transe em que nem sequer sabemos  o que dizer do que vimos e logo depois de alguns tempos o filme dominar o nosso pensamento. Não pensarmos noutra coisa senão nele, não conseguirmos exprimir o estado com que nos elevou a película a um novo nível.
Depois de ouvir várias vezes o "Third" fiquei nessa situação. Recordou-me a estranheza genial do Tricky da era Polygram. Fez-me regressar os sentimentos de quando estava apaixonado pelo música que descobria (o inverso do enjôo que actualmente quase toda a música nova me produz). Lembrou-me que afinal a música poderá ainda não ter chegado ao tal beco sem saída. Mostrou-me que ainda existem bandas que nos regeneram.
E concluí que: "Third" é uma obra musical que deve ser tomada como um todo e quando isso acontece sentimos que estamos na presença de um álbum...GENIAL!


Fica aqui o video de "Machine Gun"


O concerto de hoje no Porto e amanhã em Lisboa, será povoado de certeza pelas sonoridades que aqui descrevi. Não irei por impossibilidade, mas será um concerto marcante para quem o for assistir e mais importante ainda se estiver em sintonia com as sensações aqui descritas. Para esses será o concerto da sua vida, como foi o único que deram no Festival do Sudoeste em 1998. Inesquecíveis!!!


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