sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Cinedupla: Moon + Avatar

Os filme de ficção cientifica têm sido férteis em nos mostrar possíveis futuros. O artigo de hoje tem em comum o facto de no futuro, uma das fontes de energia para o nosso planeta passar por ser a extracção de minérios de outros planetas... neste caso mais especificamente em luas.
Na realidade, esse é um mero ponto de condução de duas obras sci-fi que na verdade revelam bem mais do que isso.




Moon - O Outro lado da Lua


Estamos perante um filme de estilo sci-fi à moda antiga, digamos quase um herdeiro fiel da obra-prima de Stanley Kubrik, o "2001 - Odisseia no Espaço". "Moon" tenta nos mostrar uma abordagem muito realística e possível do futuro e da exploração espacial, que aqui mais parece estar a lidar com tecnologia idêntica à que actualmente quase temos.

Uma base lunar, na Lua do planeta Terra, onde o equipamento tecnológico se auto conduz na tarefa base de extracção de minérios da Lua, que representa cerca de 70% da energia do nosso planeta. Tudo é automatizado e conduzido pelo super-computador GERTY, um automatismo com inteligência artificial e que fala (voz de Kevin Spacey). Mesmo assim a presença humana é necessária para assegurar e verificar que esta missão corre como esperado, inclusive monitorizar problemas com as máquinas. É neste cenário que encontramos a única pessoa da base Lunar, um homem que tem um contracto de 3 anos para lá permanecer e que findo esse tempo se encontrará livre para regressar á sua familia, que apenas mantém contacto por video-conferência. Contudo, o cenário com que "aterramos" em Moon além de tudo isso mostra-nos não só isto mas também a presença de alguns problemas que começam a afectar a tranquilidade deste solitário humano (Sam Rockwell). O satélite que faz as ligações á Terra, há algum tempo que não obtém a ligação, facto que o atormenta por se ver sem qualquer contacto do exterior e nada mais saber, visto o seu tempo estar prestes a terminar. Ao mesmo tempo, começa também a sofrer alguns problemas de saúde... e no seu desespero e curiosidade. Toma algumas acções que lhe irão revelar muito mais do que imaginaria.



Ora bem, este é um filme que tem um enorme twist final. Quer se dizer, a meio do filme surge uma inconsistência que nos faz suspeitar que há algo mais nesta história. O twist revela-se com contornos trágicos, sendo inclusive parte de um plano maquinal bem mais horrível para a condição humana e levanta questões sobre o verdadeiro avanço da ciência e tecnologia.
É apartir deste ponto em que notamos o enorme papel que o sistema de inteligência artificial desenvolve para poder adequadamente servir este solitário homem. E nesse ponto torna-se tocante ver que de toda a Humanidade apenas uma máquina sentiu compaixão por ele e pelo nefasto plano onde se encontra inserido. Restou a GERTY um acto de humanidade.

Um belo filmaço, simples e maravilhoso.
Recomendo!




Avatar

O filme sensação do momento, a bater recordes nos cinemas de todo o mundo. James Cameron está a deslumbrar o mundo com a sua mais recente criação. E que criação!
Para já neste momento é já o filme que mais receitas fez nas salas de cinema e curiosamente o segundo na lista (o Titanic) é igualmente deste realizador. É obra!

Vou saltar o resumo do filme (ver mais aqui) e opinar sobre o que absorvi deste filme na versão 3D.
A história pode ser vista como simples (o filme que mais vezes me recorda este filme é até a animação "Battle for Terra", na sua essência até quase igual) mas o tom de épico e da descoberta deste novo mundo, uma hiper-realidade impressionante, até dá a vontade de lá estar fisicamente.

O primeiro ponto importante é realmente o nível incrível do avanço visual do filme, que com Avatar fica confirmada a indistinção do que é imagem real e do que é gerado digitalmente. A simbiose alcança aqui níveis tais de perfeição que já não se pode ignorar que tipo de papel reserva o futuro dos actores no mundo da representação. Poderemos estar a ver já aqui uma via que contarão os actores no futuro: apenas representar (os gestos, movimentos, expressões, a voz, etc) sem com isso terem de serem vistos realmente por nós ( talvez ganhe como ponto positivo o facto de deixarem de ser vistos pela sua beleza -e formas- e mais pelo que dão aos filmes).

O outro ponto, o mais importante de todos, é a tridimensionalidade que Cameron deu ao filme.
Na verdade, Cameron não pretendeu fazer o mesmo que se faz quando se usa o 3D, que é na realidade fazer chegar a imagem da tela para se aproximar para junto do espectador. Aqui o seu principal objectivo foi afastar ainda mais aos elementos visuais de maneira a criar um novo efeito, que é ver para lá da tela. Não foi bem apenas dar profundidade á imagem... é mais que isso. Esta foi a primeira vez que a tela do cinema se comportou mais como uma janela ou até melhor... como um simples vidro por onde estamos a espreitar.
E o que está do lado de lá? Um mundo totalmente novo e nunca visto.

É quase como se fossemos convidados a assistir como autênticos voyeristas, facto do qual Cameron esteve sempre consciente disso e não se escusou de realizar inúmeras cenas cujo ponto de vista é exactamente o nosso. As cenas do momento em que Jake toma posse do seu avatar e corre no exterior, as cenas do militar mauzão a explicar aos militares os objectivos da missão logo ao inicio com a câmera a navegar ao nível das cabeças, o efeito montanha russa visual quando Jake voa no seu animal e mergulha pelo precipicio, etc. No fundo o 3D aqui serve para dar a sensação de que existe infinito para lá da tela e o truque é sempre bem conseguido. Depois há ainda os efeitos para o lado de cá da tela, que provocam uma nova sensação de proximidade e de espaço ainda maior. Cameron não exagera muito neste efeito mais externo do 3D mas quando o usa surpreende.

Um ponto curioso é ver que Avatar reúne uns poucos elementos de obras anteriores de Cameron. Ver a actriz Sigourney Weaver e as máquinas de guerra tipo exo-esqueletos como se viu em "Aliens" é o facto que mais saltará à memória.
Ao nível das interpretações a personagem que mais apreciei e mais vezes me parece ecoar das suas falas é o "Colonel Miles Quaritch", interpretado pelo actor Stephen Lang. A sua pronúncia e entoação são marcantes ("Real legs...")

Avatar é um grande filme, de história simples é certo mas igualmente adequada ao exercício visual que era pretendido realizar. Como agora se sabe que vai haver mais duas sequelas, ainda haverá oportunidade para o que se conta ser mais rico ainda ao nível do argumento.

Avatar, é um dos melhores e mais importantes filmes de 2009!
E quem o confirma também são os elevados números da bilheteira.

2 comentários:

David Martins disse...

Para mim o mais surpeendente em Moon foi precisamente a atitude "humana" de Gerty em ajudar Sam

ArmPauloFerreira disse...

Exactamente! E o grande twist que o filme carrega que é o lado maquinal da existência humana para fins empresariais. Quando o "humano" chega ao fim da vida é substituído por outro "humano"...