Um dos pais do trip-hop, juntamente com Portishead e Massive Attack, está de volta!
Tricky regressou!
Tricky marcou o panorama musical com albuns indescritívies como o foram no seu auge criativo desde o seu debut a solo numa fabulosa cadência: Maxinquaye / Pre-Millenium Tension / Angels with dirty faces
Nada mais seria o mesmo depois de Maxinquaye e a indústria da música teve de se reinventar, pois juntamente com "Dummy" dos Portishead e o "Blue Lines" dos Massive Attack, um género sonoro ergueu-se e tomou de assalto a música, que o copiou e extrapolou até á exaustão. Ainda nos dias de hoje se percebem os efeitos que este trio provocou na música. Bom mas isso é história do trip-hop, um género já defunto...
Tricky ainda existe em 2008...
5 anos depois do assim-assim "Vulnerable" e 10 anos depois do último bom disco lançado por Tricky, "Angels with dirty faces" (depois deste foi tudo muito fraquinho apesar de ainda haver uma pequena chama de Tricky kid a espaços numa ou noutra faixa) eis que um novo álbum do "traquina" aparece.
É claro que num fã, como eu, a esperança de vir a ouvir dele algo de relevo já tinha desaparecido há algum tempo apesar de comparecermos com devoção. Ele nestes anos todos nem nas remisturas que fez se safava ("Verve Remixed" ou "Monsieur Gainsbourg Revisited" são exemplos do quão fraco ele andava). Mesmo assim não lhe deixei de dar a hipótese de salvação.
"Knowle West Boy" é o novo álbum (2008) e tudo levava a crer que seria mais da mesma mediania. Desenganai-vos pois é que acontece que não... o maldito cavernoso regressa com um álbum a puxar por toda a truculência fervilhante dos seus primeiros tempos. Este novo álbum é potente, interessante, atrevido, imaginativo, tudo em doses q.b..
Finalmente Tricky volta a desfazer músicas, arranjando-as com notas nas alturas erradas, desconstruindo a noção de melodia, a sobrepor a sua voz ás vozes femininas (contraponto de uma voz tão grave e arrastada).
"Knowle West Boy", cujo título remete para o seu tempo de criança e o bairro/gueto Knowle West onde vivia. É dessa matéria inspiradora que este novo disco surge. Arranca logo em tom desalinhado e jazzístico com "Puppy Toy" que a inicio parece algo estranha mas que é daquelas faixas que se entranham e facilmente se reconhece depois. É imediatamente seguida por algumas faixas que alinham pelo estilo dos discos dele desta década mas muito mais apetecíveis de ouvir.
Até que nos deparamos com a frenética "Council Estate" (que no inicio tem um sample discreto de "Roads" dos Portishead como som de fundo). Esta faixa tem um refrão à Tricky bastante irónico onde ele profere as frases como: "Can't break who you mean or who you are / remember boy you're a superstar" e vai seguindo com mais impropérios a ele mesmo num ritmo funky bem acelerado sujado de breakbeats poderosos contornados por riffs de guitarra electrica. Um assombro de canção!
Vejam o video que também é poderoso:
A faixa seguinte é um impressionante regresso ao trip-hop com "Past Mistake", que nos remete imediatamente para o seu primeiro álbum, "Maxinquaye" (1995) com a eternamente magestosa "Pumpkin" com a A. Goldfrapp. "Past Mistake" é fabulosa na ambiência que sugere, no tom duplo das vozes opostas e com uma batida ecoante polvilhada de uma melodia glacial onde a espaços Tricky faz valer-se dos pergaminhos e solta linhas vocais pertence aos deuses (com em Nearly God -1996). Grande momento do disco, que é seguidamente servido com outro momento à altura com "Coalition", onde o seu estilo cavernoso e obscuro arranca em surdina sons de um violino e de um baixo tímido bem ao jeito do seu tempo em "Angels with dirty faces" (1998) com beeps tensos ao estilo de "Pre-Millenium tension" (1996). Curiosamente este ambiente tenso, onde parece algo se estar a passar, tinha sido sugerido no inicio do disco com "Bacative" e "Joseph" e os arranjos com harpas. "Cross to Bear" faz-nos recordar as canções com Martina Topley Bird.
Temos ainda direito a uma surpresa: uma versão de "Slow" de Kylie Minogue ao estilo Tricky. Se em "Vulnerable" (2003) Tricky mostrava como se fazia uma versão de uma música ("Lovecats" dos The Cure), desta vez o resultado não sai assim tão surpreendente mas que consegue agarrar por ser uma escolha enigmática mas que a partir do momento que a ouvimos nos faz dar a entender que a música já lhe pertencia -isso é ter aquela pontinha de génio que só alguns têm.
O álbum fecha com "School gates", que aparece depois de alguns momentos menores denunciados em demasia pelo ragga que já provinha em exagero no "Blowback" (2001), mas que é salvo por este tema que é uma muito interessante fusão de sons numa evocação de blues inesperada com guitar slide e tudo.
Tricky és grande e és o maior! Faz mais como este...
Tricky regressou!
É esta a noticia dos últimos tempos e regressou em força, musicalmente falando.
Saiba mais no MySpace ou na iTunes Store PT a discografia completa e já agora ouça excertos de todo o "Knowle West Boy" por lá.
6 comentários:
"Past Mistake" é muito boa!
Por coincidência é realmente a música que mais adoro devido á clara tendência pelo trip-hop, o génreo musical que mais gostei até hoje e que ainda procuro vestígios dele por aí.
Tricky é dificil e não é para todos, principalmente nos dias de hoje. Há 10 anos atrás ainda se entendia este género e tipo de artista, nos dias de hoje ninguém quer saber e tudo tem de ser de fácil digestão...
Ahhh, género defunto não senhor! Burial ano passado causou furor ao ressucitar o Trip-Hop.
E de uma forma bem anti-trip hop.
Abraços.
Burial fez foi um novo género a que já se chama dubstep e que Tricky usa na sua música. Eu até arriscaria dizer que a raíz do dubstep nasce com Tricky e a sua mania de negar o trip-hop. Nas suas tentativas de se afastar do género foi adicionando e justapondo mais estilos à sua música que resultou ao longo dos discos e em várias faixas em algo que é dubstep. Este novo está carregado de dusbstep e é o próprio Tricky quem diz que gostaria de ter sido o pai do dubstep do que do trip-hop.
Se queres que te diga o verdadeiro trip-hop morreu sim mas evoluiu para um pós-Trip-hop. Os dois primeiros grandes discos de pós-Trip-hop foram o "ComeFromHeaven" dos Alpha e o "Big Calm" dos Morcheeba ambos de 1998 curiosamente. Depois destes apareceu de tudo e qualquer porcariazinha de artista por aí faz canções com reminescêncencias de pós-Trip-hop.
Sobre trip-hop nunca dediquei aqui um artigo pois noto que já não existe malta interessada nisso e a juventude não quer nada com isso porque é velho...
Contudo, tenho espalhado o termo trip-hop ao longo de vários artigos que já publiquei:
http://armpauloferreira.blogspot.com/search?q=Trip-hop
"Past Mistake" é de facto uma boa canção, já o resto do álbum nem tanto. Acho que não acrescenta nada à discografia e poderia ter sido lançado na década passada, ainda que tenha algumas boas canções. Mas ainda estou a assimilá-lo, talvez mude de opinião.
É a mais sonante sem dúvida. tem uma produção assombrosamente fantástica. Eu acho que mal começa começa logo em grande com uma faixa fabulosa que não se estranha assim tanto mas que é daquelas que se entranham no ouvido. Council Estate é outra muito valiosa... mas gostos cada qual os tem. O bom trip-hop de entre 94 e 98 deixou marcas em quem o viveu e o tem entranhado na alma ainda.
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