terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Cinedupla: Dogville + Dancer In The Dark (Lars Von Trier)

Desta vez, o cinedupla é dedicado ao realizador Lars Von Trier, recuperando dois filmes marcantes. Este artigo tem influência no ciclo dedicado a este realizador que um grupo de blogs realizou em Outubro'09.

Escusado será dizer nas criticas de cada filme que são altamente recomendados.
Isso é óbvio.

Contudo, são filmes muito duros, radicalmente alternativos e fortemente emocionais. Não são para todos os públicos, estão longe da fácil assimilação e pedem entrega de quem os assiste.

Mesmo assim... aí vai.



Dancer In The Dark (2000)


"É uma inteligente e profunda observação ao plano psicológico e humano, que nos faz engolir em seco muitas vezes, com um nó na garganta que não se desfaz nunca. E é precisamente a figura de Björk que despoleta essa sensação no espectador. É uma entrega incrível àquele que se tornou o papel da sua vida (...)
O olhar frio e calculista é soberbo, manipulando o espectador de início ao fim, torturando-o, fazendo-o sofrer, para no fim sentir a força de todo o argumento." In SplitScreen, escrito por Tiago Ramos

"Dancer In The Dark" é para mim um dos melhores filmes musicais de sempre. Onde as canções fluem perfeitamente na sua condição de alienação da realidade dura da personagem Bjork. E depois no final temos a derradeira canção dela, já em plena realidade do filme e não a da alienação... numa cena toda ela poderosíssima e duramente comovente.

O filme é tão duro que há alturas em que devido á cegueira crescente da personagem a trabalhar nas pesadas máquinas... parece que a qualquer momento vai ainda sofrer um acidente laboral e ficar amputada das mãos. Parece que até nos deixa em estado de alerta por ela... como se a pudéssemos ajudar também.

Bjork conseguiu, e duma só vez, conciliar a sua música com a arte da representação. Saiu-se muito bem na prova, sendo até nomeada para os Oscars pela parte musical. O disco que deste filme resultou é magnifico.
A Madonna ainda hoje se deve roer toda de tamanha inveja... afinal a rainha da pop tanto tentou e nunca vingou na 7ª arte e nem deixou nada assim plenamente marcante e de alto reconhecimento.
Bjork só foi actriz com este filme... e marcou definitivamente.

A verdade é que Bjork, não se encheu de vedetismos e deixou-se subjugar ás intenções de Lars Von Trier, que conseguiu obter assim o melhor dela. Bjork foi ainda quem criou as canções que passam no filme e essa foi a razão de Von Trier a convidar para as interpretar no filme pois não imaginava mais ninguém a dar vida às musicas como ela. O resultado foi uma grande simbiose artística entre ambos.

E na sua componente de filme musical, consegue o difícil equilíbrio:
É um magnifico filme? SIM!
É um magnifico musical? SIM!



Dogville (2003)



In SplitScreen (escrito por Tiago Ramos):
"Muitas das filosofias de vida intemporais admitem que para atingir o estágio final de auto-realização é necessário um total sentido de despojamento. Lars von Trier tenta fazer o mesmo com Dogville: uma obra despojada de quaisquer artifícios que, ao abdicar dos cenários e adereços, privilegia o interior de cada uma das personagens, distinguindo o essencial do supérfluo.
(...)
Dogville é uma visão pessimista do Mundo e da Humanidade mas é, ao mesmo tempo, o Cinema mais genuíno, mais cru e real que poderíamos já ter visto. Lars von Trier confirma a sua originalidade, a sua visão, o seu ponto de vista dogmático e de certa forma simplista, mas que não deixa de ter a sua razão. A maldade é aqui retratada como a única certeza do mundo."


Adorei-o no cinema quando saiu.
"Dogville" é um dos mais originais filmes e daqueles que sabe cruzar, com mestria, cinema e teatro, sob uma história que parece estar a ser contada de um livro (e aí o cruzamento também da literatura).
Já a sequela "Manderlay" fui assistindo pelo TVCine e não conseguiu me pegar tanto. Talvez estivesse num momento menos predisposto... e em casa os níveis de concentração para uma experiência destas são bem diferentes.

A maior ironia deste filme quando o vi no cinema foi que a certa altura parece que estamos numa sala de teatro: há enquadramentos que pareciam ser filmados da cadeira onde estava. Deu-me o efeito de estar a ver um palco de teatro através da tela de cinema. E depois o tipo de iluminação escura do filme ajuda imenso nas sensações que produz a quem vê.

Von Trier conseguiu ainda contrariar o vedetismo e maneirismos de Kidman e fazer com que ela, deixasse de ser até irritante e cabotina, para talvez mesmo ter feito a sua melhor actuação e performance enquanto actriz de sempre. E que grande actriz foi nesse filme!
mas não foi só ela... o restante elenco é também de eleição e muito dedicados a esta invulgar experiência.

Dogville é um filme demasiado alternativo e desafiante para quem não tem capacidade de aceitar um criação artística tão radical... e tão marcante!
Felizes dos que superam isso e o percebem, pois são esses quem são os retribuídos por Von Trier.

3 comentários:

Tiago Ramos disse...

Dois filmes muito bons. Mas gosto ainda mais do Antichrist.
Obrigado por usares excertos de críticas minhas. :)

ArmPauloFerreira disse...

Obrigado pelo comentário.
Este artigo deverá ter soado a déjá vu... pois não é baseado em comentários que fiz ao seus artigos.
Ainda não vi o Anti-Cristo... um dia destes talvez...

Tiago Ramos disse...

Trata-me por tu, por favor! :P