sexta-feira, 11 de junho de 2010

Cinedupla: The Box + The Time Traveler's Wife (parte 1)

Parte 1 de "The Box" (+ "The Time Traveler's Wife"  - na parte 2):

Os filmes podem por momentos nos fazer vaguear por situações fantásticas. O destaque desta vez recai sobre dois filmes que nos levam a acompanhar duas historias anormais e não lineares no argumento. Um lida com situações bizarras e o outro lida com viagens no tempo.

Curiosamente ambos demoram a chegar às salas de Portugal.
Uma outra verdade acerca desta dupla de filmes escolhida é também a de ambos terem recolhido varias reviews/criticas de pendor negativo.
Estaremos portanto na presença de maus filmes?

Talvez sim e talvez não. Depende da capacidade de aceitação de cada um...
Bem, dentro do que é a minha tolerância, de maus não têm nada, precisamente porque há por aqui mais ideias de cinema e situações intrigantes do que se esperaria. Digamos que são dois contos fantásticos em forma de filmes...


The Box

Realização: Richard Kelly
Com: Cameron Diaz, James Marsden, Frank Langella...


O regresso de Richard Kelly aos filmes e a narrativas invulgares!
Este realizador-autor é somente o criador de "Donnie Darko" (rever o artigo da apreciação deste filme), simplesmente um dos maiores filmes de culto da década passada.

A verdade é que Kelly depois da sua genial estreia em 2001 com o seu "Donnie Darko" não voltou mais a conseguir erguer um novo colosso como tanto se desejava e esperava dele. "The Box" é assim o filme que assinala o regresso deste autor, naquele que é como o próprio afirma como sendo o seu projecto mais pessoal e de novo ambientado numa ideia complexa.

"I have an offer to make. If you push the button, two things will happen.
First, someone, somewhere in the world, whom you don't know, will die.
Second, you will receive a payment of one million dollars.
You have 24 hours."

A premissa do filme remete imediatamente para algo anormal. Um dia um casal vê-se perante um dilema colocado sob a forma de uma caixa que uma misteriosa pessoa lhes deixou à porta de casa com um bilhete que regressará. A caixa tem apenas um enorme botão, que se for premido até ao regresso de quem a entregou, a vida financeira do casal melhorará com uma avultada quantia em dinheiro: 1 milhão de dolares!
A única condição desta proposta é que ao premirem o botão alguém que desconhecem morrerá.



Este não é um filme normal no sentido de contar esta história elíptica. É o dilema da decisão que este filme nos entrega e depois de decidido e premido nada mais pode ser evitado.
Logo ao inicio somos presenteados com uma cena de introdução ao filme que nos parecerá desconexa, pois toda ela é estranha e intrigante mas que mais tarde terá a sua justificação. Depois suspense que se vive perante a caixa e o premir do botão é um dos pontos chave do inicio.

O casal decide-se a premir o botão à ultima da hora. O mutilado dono da caixa regressa, entrega a mala com o dinheiro e lhes comunica que desconhece para quem irá a caixa a seguir, deixando implícito que da decisão do próximo "cliente", a pessoa que morrerá será um deles, incluindo o filho... Não há lugar para arrependimentos ou inversão do processo. E estranhos acontecimentos vão surgindo a este casal, como se a vida começasse a andar para trás...

Estas são linhas gerais de "The Box" cuja história é baseada num pequeno conto muito antigo e que Richard Kelly o tomou como base para fazer algo mais do que realmente aparenta.

No fundo, "The Box" ambienta-se também como uma obra de ficção cientifica com contornos de terror fantástico, só que Kelly optou por tornar tudo isto ainda mais estranho e intrigante, chegando o filme a atingir momentos bizarros completamente e até com um desenrolar aleatório.

É como se Richard Kelly pretendesse a espaços usar o estilo de David Lynch. Até o consegue mais ou menos só que caiu no pecado de querer alcançar uma grandiosidade e níveis de complexidade (à lá Donnie Darko) que não ligaram totalmente bem e se revelam excessivos. É como se dentro do filme, entre a resolução desta interessante premissa ele se decidisse a contar outro filme condicionado para o resolver em função da "outra" história que começou. Terminado o filme fará com que se pergunte sobre o que é que realmente se passa em "The Box".

Este é um filme que não grangeou simpatias da critica e na bilheteira. Não é descabido pois o filme tem a sua cota parte de pretensioso e de criar complexidades desnecessárias.

Contudo, eu gostei muito de todo o filme e até de Cameron Diaz que, apesar de não ser uma grande actriz, desta vez conseguiu-me transpor os dilemas interiores da personagem. É talvez mesmo a sua prestação mais interessante que já vi (em "Vanilla Sky" também esteve bem) e ela consegue marcar o tom certo ao filme que carrega.

Num certo ponto se tira uma conclusão de que Richard Kelly gosta de nos colocar a fazer conjecturas e também de usar a água quer seja como um recurso estilístico-visual... quer sendo um facto de importância até. Sim... é que água em bloco e suspensa no ar é mesmo impressionante e invulgar.


Martin: Sir? If you don't mind my asking... why a box?
Arlington: Your home is a box. Your car is a box on wheels. You drive to work in it. You drive home in it. You sit in your home, staring into a box. It erodes your soul, while the box that is your body inevitably withers... then dies. Whereupon it is placed in the ultimate box, to slowly decompose.
Martin: It's quite depressing, if you think of it that way.
Arlington: Don't think of it that way... think of it as a temporary state of being.


Eu percebi o filme e até acho que o "The Box" é intrincado demais para algo que... depois se percebe ser nada de mais afinal! É obvio que se este filme parte de uma história simples e Kelly a ampliou... que muita coisa teria de ser adicionada ao filme. "The Box" procura durante todo o tempo ser mind-blowing e Lynchiano, amarrando-me do principio ao fim, surpreendendo com muitas das ideias visuais e conceitos escondidos nesta história tais como as abduções, teletransportes, seitas e mais alguns temas/assuntos bem bizarros (um pé com menos dedos por exemplo)... tudo isto envolvido em conspirações mergulhadas em mistérios existênciais que conduzem a um fundo moralista.

Recomendado aos curiosos por histórias bizarras. Não se fica indiferente com este filme e produzirá apreço ou ódio. Eu adorei!



Classificação:
Bom
7/10



Ver mais reviews neste artigo com mais opiniões de quem apreciou e o que dizem do "The Box".
Continuar para a segunda parte deste cinedupla, clicar aqui.

7 comentários:

Rui Francisco Pereira disse...

O The Box já está na minha lista de filmes "a ver" há algum tempo. Gostarás de saber que esta tua análise já me incentivou a vê-lo. Vou mesmo vê-lo :D

ArmPauloFerreira disse...

Não é um grande filme e está longe do Donnie Darko mas é um filme que gostei por ele ter arriscado um desenvolvimento não convencional. Pode se meter este na categoria dos filmes no fio da navalha pois ora pode ser bom como xunga em simultâneo. A meio a coisa transforma-se de tal maneira que o normal é se ficar a pensar o que é que acabou de acontecer. Ele não é David Lynch mas nessa parte faz lembrar o estilo dele. Eu gostei precisamente dessa parte.
Conhecendo um pouco como encaras os filmes arrisco dizer que este te vai desagradar. Leva poucas expectativas senão... vais ficar desiludido. É que todos consideram um mau filme... eu acho-o um ovni realmente mas dos positivos porque gostei e Me andou a roer o juízo durante dias (vi o filme à meses atras e ainda penso nele). Vê e diz o que achaste também.

Obs.: aguardo a critica do Southland Tales, um filme dele que nunca vi a para da serie de Tv que ele fez.

Rui Francisco Pereira disse...

Tarde demais xD Já tenho expecativas altas. E apesar de não ter adorado Donnie Darko (é um enigma que ainda tenho de reviver), o meu sexto sentido diz-me que este The Box vai valer a pena.

Também o Southland Tales me desperta curiosidade, mas ainda não tive tempo para o ver.. :S

João Sousa disse...

Tenho a ideia de a história na origem deste The Box já ter sido usada num episódio do Outer Limits ou do Twilight Zone. Penso ter sido escrita por Richard Matheson, alguém que talvez compita com o Stephen King em número de histórias adaptadas. Bom, talvez seja injusto, pois o Matheson escreveu algumas propositadamente para televisão, enquanto não me consta que o Stephen King o tenha feito.

ArmPauloFerreira disse...

@ João Sousa: tens a ideia certa pois é mesmo verdade. Até mencionei isso no artigo pois Richard Kelly ampliou-a com muita coisa. Se a original era uma curto conto moralista... desta vez foi expandida para ter mais que isso e mesmo assim conduzir ao mesmo fim.
Se tiveres curiosidade dá uma chance a este filme bizarro, e já que também és um dos que, tal como eu cresceu a adorar a Twilight zone original... o filme pode ser que te agrade.

Nuno Pereira disse...

Bem eu acabei de ver o The Box, e a minha opinião não é nada favorável.

Não gostei, acho o filme bastante bizarro e sem uma explicação plausível para tal.

Parece daqueles filmes "a corda" que voltam do fim para o inicio sem nunca acabarem, num Deja Vu constante :)

Gostei mais do Viajante do Tempo :)

ArmPauloFerreira disse...

@ Nuno P.: Acredita que me fascinou o The Box. Aliás estes dois filmes do artigo por serem mistos e paradoxais. O The Box não é de fácil aceitação para cada um, pois é dos que mais assisti ver divergir na critica por aí, desde que saiu. É bizarro e muito ao estilo de Lynch... mas o Tne Box tem sentido narrativo ao menos (em elipse). Obrigado por vires deixar um contributo.
Há mais criticas interessantes sobre este filme, que já publiquei em tempos no artigo The Box: o que dizem por ai do filme de Richard Kelly...