domingo, 24 de abril de 2011

Cine-critica: The Lovely Bones (2009)

A Páscoa é uma época que celebra o sacrifício e ressurreição de Cristo. No fundo, é o oposto do Natal onde se glorifica o nascimento do filho de Deus. Nascimento e morte. E é pela morte e a focagem no estado para lá da morte que a sugestão do filme "Lovely Bones" se torna pertinente sugerir.


The Lovely Bones
(Visto do Céu - 2009)

Realização: Peter Jackson
Elenco: Mark Wahlberg, Rachel Weisz, Saoirse Ronan, Stanley Tucci, Susan Sarandon...


Sinopse (Split Screen): "6 de Dezembro de 1973. Susie Salmon (Saoirse Ronan), de 14 anos, sai da escola e a meio do percurso de regresso a casa é abordada por George Harvey (Stanley Tucci), um vizinho que leva uma vida estranha e solitária a construir casas de bonecas. George convence Susie a entrar num anexo onde acaba por a violar e assassinar brutalmente. O filme, baseado no livro homónimo de Alice Sebold, mostra-nos Susie num limbo celeste, observando a sua família destroçada, tentando, de algum modo, ajudar os que ama a superar o sofrimento que o seu desaparecimento causou, ao mesmo tempo que procura vingança para o homem que lhe tirou a vida."


Este nao foi um filme fácil para Peter Jackson. A adaptação do livro a filme, segundo dizem, não foi feliz pelo lado da perspectiva do livro (considerado superior ao filme - mas esse é o eterno cliché!).

Narrativamente presenciamos os acontecimentos todos desta tragédia que se abate sobre uma adolescente e as repercussões perante todos que amavam, onde o cunho autoral deste realizador sobressai imenso.
Conhecemos a adolescente que será assassinada, as pessoas da sua vida, com especial destaque para os pais e família, o ambiente da zona em que vive, a escola, os momentos de diversão, os hobbies e (com bastante importância) o despontar amoroso na sua (curta) vida.
Tudo isto é sempre desenvolvido com uma mestria brilhante da parte de Peter Jackson, que estabelece tudo isto cativantemente, ajudado por nível de produção primoroso da época (anos 70), com uma fotografia em tons de cores encantadores e por vezes delico-doce.

"The Lovely Bones", adianto que achei muito interessante. Tem um elenco bem escolhido, onde curiosamente todas as principais personagens têm espaço de construção nesta malha que se torna intrincada com a perda e a forma de lidar com ela. Susan Sarandon, que faz o papel de uma muito peculiar avó, consegue com pouco fazer muito, acabando por roubar todas as cenas em que aparece.
No meio de tanta candura travamos conhecimento com o metódico assassino (um serial killer), nascendo aqui mais uma construção de um vilão memorável para o panteão dos mais interessantes do cinema, protagonizado por Stanley Tucci, que nos brinda com uma prestação impressionante.
No fundo, são os actos deste serial killer, as formas como consegue se disfarçar pacatamente no meio habitacional, que fazem o contraponto à visão ingénua no estado já etéreo da adolescente no limbo entre a Terra e o Céu. É desse local, um mundo que nasce da sua essência, por onde ela vai assistindo à forma como as pessoas que gosta lidam com o seu desaparecimento. Mais uma vez, é o seu desaparecimento, a ligação a essas pessoas e algo que sente inacabado, que a fazem manter nesse estágio existencial.


Na verdade, como filme, no seu todo é uma proposta que acaba algo fracturada, como se duas formas distintas de direcção artística estivessem em constante colisão durante grande parte desta obra muito peculiar. O que acontece é que apartir da morte física da adolescente, passamos a seguir a existência dela no estado metafísico. É esse lugar que visualmente provoca ao filme uma certa ruptura estranha com o que se está a assistir, podendo deixar em certos espectadores um desconforto entre o plano real credível e o excessivo plano irreal. E a culpa é forma assumidamente computorizada que criativamente Peter Jackson escolheu para nos ilustrar visualmente este "mundo" surrealista, que melindra o filme no seu conjunto.

Não que desgoste do resultado criado por CGI, na verdade há diversas partes verdadeiramente deslumbrantes e arrebatadoras. De tal forma que a minha maior curiosidade era até de as ver. Só que também há algumas que ultrapassam o aceitável, que formalmente estão mais na estética de anúncios comerciais e do design gráfico típico de contos de fadas "sem" movimento (para livros, etc) do que necessariamente um visual adequado para os filmes (os momentos em que se vê imagem video no mar ou da diversão com mini-mundos... ficam mal e são forçados). Contudo, também brilhantismo como na interligação da cena das garrafas de vidro (com as miniaturas de barcos no interior) e a conexão simultânea com o mundo espiritual onde elas surgem gigantescas... são puramente espantosas e bem orquestradas.

Por fim, salientar um outro facto importante do filme que é a banda-sonora de Brian Eno (e não só, pois também os Cocteau Twins, This Mortal Coil e outros pontuam esta produção), que potenciam grandemente o constante feeling real vs intangível do filme, mas muito especialmente os momentos surrealisticos no campo metafisico.

"The Lovely Bones" um filme que bem poderá não agradar a todos mas que é uma experiência visual e narrativa muito interessante.

7/10 - Bom

5 comentários:

Tiago Ramos disse...

É o melhor pior filme de sempre. :)

Nuno Pereira disse...

Eu tb não gostei... e também não gostei muito do elenco, a Saoirse Ronan esta bem melhor no The Way Back.

E quanto ao vilão acho que ele têm um papel "facil" para sobressair entre os restantes!

Um filme com potencial mas que ficou muito aquém das expectativas que eu tinha em relação a...

ArmPauloFerreira disse...

Desde já agradeço a participação de ambos.
É um filme realmente difícil e divisor em si mesmo, como se o todo nao estivesse sempre num mesmo patamar (e é verdade). Onde falha... falha mesmo (as cenas no limbo) mas onde acerta... acerta com bom nível de qualidade (as partes no mundo real, a banda-sonora, a produção da época e... gostei do elenco, em especial de 3 personagens - avó, neta assassinada e o assassino).
Estranhamente, apesar de em algumas partes falhar (e um final com teen love místico-lamechas), nao consegui encaixa-lo como mau (há muitos bem piores), por ter muito nele que o salva. Nao é uma grande obra isso é verdade, mas Jackson, fez algo que me cativou o interesse até ao fim. É um filme por isso, interessante mas afectadamente peculiar.

Bruno Cunha disse...

Esperava muito melhor.

Abraço
Frank and Hall's Stuff

ArmPauloFerreira disse...

É o que é... tem ainda assim bastantes momentos bons e muitas caracteristicas artisticas que me agradaram bastante (especialmente o belo efeito que produz a banda-sonora).