Não me tinha esquecido que Roger Waters passou por Portugal a sua digressão "The Wall".... mas não tive tempo.
Mesmo assim para não deixar o facto em branco, deixo aqui excertos do que se disse no Blitz-online sobre os concertos de Roger Waters ("The Wall") em Portugal:
Roger Waters ao vivo no Pavilhão Atlântico, Lisboa
Foi grande e transversal, em termos geracionais, a romaria para assistir, ontem à noite, à primeira visita de Roger Waters a Portugal desde a atuação no Rock In Rio Lisboa, em 2006.
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O espetáculo erigido em torno do duplo The Wall , sabem-nos os fãs mais dedicados e os ouvintes ocasionais, é grandioso: ao fim da primeira música há um avião - réplica de um Stuka, bombardeiro alemão da II Guerra - que sobrevoa a plateia despenhando-se contra o muro e aí se "incendiando" (impõe, confessamos, algum respeito); há uma produção de palco espantosa, cativante e imaculada, e há também uma noção assumida, por autores e espetadores, da importância do disco e do concerto na história do rock. O que mais surpreende, no meio de um espetáculo que se poderia temer megalómano, é então o ambiente quase familiar e acolhedor do serão, com pais e filhos em harmonia, entoando todas as letras e exultando, atentamente, com o foguetório que ia sendo disparado do palco-muro disposto a toda a largura do Atlântico.
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Na base de tudo, porém, está a viagem quase psicanalítica de Roger Waters, e mesmo no meio de toda a pirotecnia isso transparece. Na frente do palco-muro, trajado de negro (lá atrás esconde-se a banda numerosa e cumpridora), Waters apresenta o seu "bebé", The Wall , com orgulho e "savoir faire", mas também com a fragilidade de quem se debate, perante milhares de estranhos e por vezes até sem a "muleta" do baixo, com fantasmas íntimos.
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Por um lado uma gigantesca produção, com o muro a erguer-se durante o primeiro acto e a transfigurar-se no segundo, até à derradeira queda, o concerto The Wall é, ao mesmo tempo, a jornada interior de um homem alienado de um certo mundo e abrigado num outro, ora fantasioso ora distópico. Apesar da grande aclamação de "Another Brick In The Wall" (com as 15 crianças de uma associação cultural da Cova da Moura eufóricas em palco, a dançar e interagir com um dos bonecos de Gerard Scarfe), "Mother", "Comfortably Numb" ou "Run Like Hell", é complicado escolher os momentos altos de um espetáculo que flui com muita naturalidade e consegue ser tão impressionante, a nível visual, como tocante pelo seu conteúdo.
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"Another Brick In The Wall, pt2" (21/03/11 - Pavilhão Atlântico)
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O "ataque" aos sentidos, e ao coração, culmina na primeira interpelação de Waters ao público, simples e afável, lembrando os "inacreditáveis" 31 anos que se passaram sobre os primeiros concertos The Wall e apresentando a belíssima "Mother", na qual contracenou consigo mesmo, graças às imagens de uma atuação dos Pink Floyd em 1981 derramadas sobre o muro, em jeito de sombra. Foi um momento de grande intimismo - algo difícil de almejar a uma escala tão grande - e também de grande partilha, ampliada quando, à pergunta "Should I trust the government?", e a resposta se pintou garrida no muro: "No fucking way". Escusado será dizer que a multidão, com os nervos políticos em franja, se alvoroçou.
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20 minutos mais tarde, o segundo ato, fortemente assente em ilusões de ótica que fazem o público crer no desmoronar do muro, quando os "tijolos" que o compõem se mantêm ainda firmes e hirtos, traz as muito aguardadas "Hey You", "Is There Anybody Out There?" ou "Bring The Boys Back Home", musicalmente épico e visualmente intenso, com fotografias de crianças desfavorecidas a comover a plateia. Invariavelmente atento e pouco dado a participações fora de tempo, o público português deixar-se-ia ainda conduzir por Waters no coro de "Comfortably Numb", maravilhar pelo anunciado porco insuflável e gritar o nome do seu herói ("Waters, Waters, Waters!") antes de este lhes dar permissão para, em "Run Like Hell", se "divertirem". Com jogos de palavras à volta do império iPod ("iRun", "iProfit", "iLose", ia-se lendo nas projeções) este foi um dos últimos "picos de corrente" do espetáculo, que terminou com toda a "equipa" na boca de cena - contámos 12 músicos, Roger Waters incluído - agradecendo a presença e a postura dos portugueses.
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"Run Like Hell" (21/03/11 - Pavilhão Atlântico)
(...) No fim do concerto:
"Quando escrevi [este disco] as pessoas não o respeitaram da mesma forma", disse Waters na despedida. "Mas nestes anos todos muita coisa mudou e eu não podia estar mais feliz por estar aqui esta noite".
Realmente, deu pena não poder estar presente neste concerto de uma vida... mas a vida não o permitiu. Contudo, presterei a minha homenagem comprando um dia a edição CD/DVD destes concertos, para ir revivendo este mega-concerto de Roger Waters.
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