domingo, 1 de maio de 2011

Cine-critica: The Outlaw Josey Walles (1976)



The Outlaw Josey Walles  /  O rebelde do Kansas
(1976 - IMDb)

Realizador: Clint Eastwood
Com: Clint Eastwood, Chief Dan George, Bill McKinney, Sondra Locke...


Clint Eastwood realiza e protagoniza este magnifico western de recorte clássico. "O Rebelde do Kansas" mostra a busca de justiça pelas próprias mãos de um pobre homem, Josey Walles, que de repente e sem nenhuma razão, perde tudo perante um grupo de bárbaros: a família (o filho ainda criança e a sua mulher), a casa e todos os seus bens.
Josey Walles, sedento de vingança e sem nada, parte no encalço do grupo e isso acaba por se tornar numa enorme odisseia pessoal e de redescoberta.


Josey Walles é um solitário, de pouca ou nenhuma conversa mas que se percebe do seu interior as convulsões do desgosto ao mesmo tempo que aparenta ser alguém calmo e de poucas palavras.
A sua jornada coincide com os tempos de guerra civil entre Norte e Sul, onde pelo caminho se vê obrigado a juntar aos tropas. É num desentendimento entre facções que ele decide se virar contra os Yankees, pois se vê no meio de uma estratégia para acabar com o seu grupo e com uma potente arma automática (de manivela) ele decide se virar contra eles (e com a ajuda de outros membros) arrasar com o acampamento, acabando por reconhecer o bando que lhe matou a família. O bando foge e ele igualmente, tornando-se num desertor, complicando ainda mais a sua condição. Contudo, o desejo de vingança colocam-no novamente na sua jornada.


A jornada acaba por não se fazer solitária pois conhece um velho indio, também ele na condição de excluído e sem nada, que se decide a o seguir e se torna seu companheiro. Sucessivamente vai conhecendo pelo seu caminho em direcção a Oeste, com uma india (que a salva duma injusta escravatura e consequente violação) que se torna sua seguidora por razões de honra. Também se deparará com um jovem aventureiro, que é mais gabarola do que parecia e por quem Josey Walles assume uma atitude quase paternal e até mesmo um cão, que o segue fielmente. Juntos nesta odisseia rumo ao Oeste, defrontarão diversas adversidades e inimigos pontuais, incluindo uma família que haviam conhecido numa civilização, que se encontra numa emboscada de ladrões e... Josey Walles decide proteger a indefesa mãe e a sua pura bela filha. Tudo isto conduzindo-se sempre no encalço daqueles que lhe restam cumprir a sua sede de vingança, conduzindo-se a um inevitável duelo final.



O que mais apreciei neste filme de Clint Eastwood, é o sentido de jornada que representa as voltas que a vida dá. São momentos destes que mudam uma pessoa e o sentido da vida, de alguém inconformado com a tragédia que se lhe abateu à sua vida calam e pacata. Um solitário com uma causa, que se vê gradualmente com um crescente apoio humano, de gente que à sua maneira têm também algo em comum. Na realidade, são pessoas sem ninguém como ele, igualmente carentes de humanidade e um rumo, que se redescobrem entre si pela possibilidade do conforto e empatia humana onde menos se esperaria.


É uma bela história, um belíssimo western de redenção com verdadeiras personagens, onde por vezes a falta de detalhes imediatos de cada uma, se vai intuindo e lentamente conhecendo melhor. Muitas das vezes percebemos mais pelos gestos, olhares, atitudes e conduta do que propriamente pelas poucas falas de cada um (ou fica por falar). Faço também uma importante referencia ao velho índio que o acompanha pois é uma daquelas personagens e tanto. Daqueles que diz muitas coisas acertadas, por vezes bem divertidas (um grande contraste com a personagem de Eastwood) e que é uma performance muito interessante do actor.


Como western nada lhe falta, a começar por um Eastwood que parece consciente dos seus trabalhos anteriores, cuja carreira marcante tem nos incontornáveis "O Bom, o mau e o vilão" e "Por um punhado de dólares", alguns resquícios. É um western repleto do imaginário tão característico, desde as pequenas cidades abandonadas, índios, perseguições em grandes cavalgadas, travessias de rios, grandes tiros e bons duelos de balas cruzadas... só que aqui à mistura num argumento cujas subtilezas e subtextos o tornam em algo melhor do que à partida seria de supor.
Ahh... e nem as célebres desafiadoras cuspidelas para o chão estão ausentes.


Este filme é admirável, a realização de Eastwood é sem virtuosismo mas plenamente eficaz. Aqui se percebe até melhor a força de certas motivações que Clint Eastwood continuaria a dotar em muitos filmes posteriores a este. Refiro-me claro ao "Imperdoável" de 1992, pois com alguma imaginação mais rebuscada até se poderia quase ver este "Rebelde do Kansas" como uma espécie de prequela aparentada (entenda-se que não têm relação alguma sequer... mas no Oscarizado filme de 1992, encontramos um cowboy já velho mas com um passado atribulado que bem poderia ter sido este).

É sempre uma boa surpresa a descoberta deste filme, que não é uma obra maior no género mas que é bem melhor do que esperava obter e continuamente cativante até ao fim.

7 comentários:

Nuno Pereira disse...

Estes filmes são sempre bons... este tenho originalmente em DVD :)

ArmPauloFerreira disse...

É sem dúvida um grande filme. Difere imenso do tipo de produção actual mas adorei-o quando o vi o ano passado numa exibição TVCine.
Perto do fim do filme, a cena no bar, o duelo e a forma como todos contam a "verdade" acerca do Josey Walles... aquilo parece fazer a ponte com o "Unforgiven" que ele fez 15 anos depois. O que te parece esta minha observação? Sendo, tu um apreciador de westerns deves ter algumas pertinentes observações sobre isto ou este filme...

A Bola Indígena disse...

Nunca vi este, mas em termos de filmes que envolvam anos 70, western e Eastwood, o High Plains Drifter it's a hell of a movie !

Cumps

ArmPauloFerreira disse...

Esse High Plains Drifter não me recordo dele e não o terei visto. Também deve ser altamente mas este do Outlaw Josey Walles por ser mais intimista e comedido, vai ser um filme que irão apreciar.

Jorge Teixeira disse...

Boa crítica, expões tudo o que filme nos oferece, desde a competência de Eastwood atrás e à frente das câmaras até às subtilezas e mensagens do argumento, passando pela caracterização de certos personagens terrivelmente bem engendradas.

E é isso, um óptimo exemplo de como se faz um Western (coisa que ultimamente se tem visto pouco...ainda assim penso que já houve décadas piores). Aconselho, já que não viste, o High Plains Drifter, um filme igualmente muito bom. E esse sim, segundo a opinião de muitos, é uma espécie de sequela ao bom, mau e vilão ou a toda a trilogia dos doláres encarnada na personagem mítica de o homem sem nome. Tal como o Unforgiven se possa também considerar o derradeiro filme da personagem. Este The Outlaw of Josey Walles já nem tanto, a personagem que Eastwood interpreta tem mais nuances, mais extremos emocionais e não tanto aquele ar carrancudo e vingativo com laivos de ironia. Mas isso só são divagações dos fãs, nada oficial, mas ao qual me identifico.

abraço

ArmPauloFerreira disse...

É exactamente isso, Jorge. Concordo plenamente com as tuas observações. O Clint Eastwood criou uma personna que a foi "vestindo" consoante os tempos, mas as características mais vincadas estiveram sempre lá. Este Josey Walles, procura ser uma variação mais séria ao Western Spaghetti que o popularizou. Salvo erro Eastwood também deu um jeito neste argumento e o resultado é que o filme é um verdadeiro épico sobre a justiça e a redenção pessoal deste homem... que era pacato.

Eu gosto de pensar no Josey Walles como um jovem Unforgiven (que é um filme importantissimo e um state-of-the art para o género nos tempos mais recentes)

Um dia espero sim ver essas tuas recomendações. Estamos a falar de filmes miticos do grande Clint Eastwood... são irrecusáveis.

ArmPauloFerreira disse...

E um grande obrigado a todos pelas vossas participações e contribuições.