Tal como o "Hulk" de Ang Lee, o Superman de Singer, é uma diferente abordagem ao mundo desta personagem. Este Super-Homem é nos dado com imensa delicadeza, atingindo por vezes a celestialidade, algo que não era desejado em geral pois o que se esperava era um blockbuster de muita acção fantástica. E Singer dá isso... mas apenas nalguns momentos.
Admito que, fico em transe com a cena do salvamento do avião, que tem dois momentos de pura genialidade (um deles quando em pleno voo atravessa uma asa solto e se escuta na banda sonora as vozes do coro; o outro é já no final do salvamento, quando em queda livre Superman percebe que não tem mais tempo para deter o avião e trava-o, criando a inércia de vôo e em simultâneo aplica toda a sua superforça em urgência, que é quando se vê o detalhe da ondulação na fuselagem do avião - são dois momentos de genialidade visual, que Singer dirige repleto de subtilezas) e especialmente a partir do meio do filme, toda a apoteose é uma ode total a Superman. Mas isto sou eu a dizer... e o objectivo do post nem era este aparte mas sim um outro que muito me extasia.
Se há algo no filme que perdura, é a presença da voz de Marlon Brando, que diz coisas que são fundamentais e atingem níveis até teológicos. E como está intimamente conectado aos dois filmes da saga de Super-Homem, com os "Superman - The Movie" e "Superman 2"... a ponte criada ganha ainda mais contornos extra com o "Returns", que além do próprio Superman, também estabelece o valor de um legado familiar que muito bem o estabelece nas entre-linhas a vários níveis.
E é sobre este ponto que vou tentar aludir...
Krypton estava à beira da destruição iminente e os kryptonianos não tinham mais nenhuma forma de se salvarem sequer. É aqui que Jor-El faz algo mais importante, mais do que meramente servir de origem a Superman. Jor-El é também um pai e escolhe não se salvar para o poder fazer ao seu filho. A sua entrega trágica aos acontecimentos carregam em si a esperança e redenção de saber que o seu legado terá a chance de sobreviver, perpetuando assim a existência de todo um povo. De toda uma existência à escala planetária, pode se concluir.
É por isso que aqui as deixo, pois gosto imenso de ouvir estas palavras de Jor-El, que carregam em si um enorme peso e quando muito a esperança de o filho poder ser a homenagem viva do pai que teve na hora do sacrifício.
Jor-el (Marlon Brando) diz:
Live as one of them, Kal-El, to discover where your strength and your power are needed. Always hold in your heart the pride of your special heritage.
They can be a great people, Kal-El, they wish to be. They only lack the light to show the way. For this reason above all, their capacity for good, I have sent them you... my only son.
They can be a great people, Kal-El, they wish to be. They only lack the light to show the way. For this reason above all, their capacity for good, I have sent them you... my only son.
They could be great people Kal-El if they wish to be. They only lack the light to show the way, this reason above all is why I send them you, my only son.
You will travel far, my little Kal-El, but we will never leave you-even in the face of our deaths. You will make my strength your own. You will see my life through your eyes, as your life will be seen through mine.
The son becomes the father.
And the father, the son.
O filme "Superman Returns" lida com imensos dilemas ao longo dos sub-temas que vão desfilando. Os mais tocantes são aqueles cujos laços familiares encerram em si quer seja o sufoco (a infeliz situação de Martha Kent impedida moralmente de poder visitar o "super-filho" adoptivo no hospital), quer seja o infortúnio de ser insuficiente (a situação do marido de Lois com um filho que sabe não ser dele e que sempre será insuficiente para ambos) e por fim, o conforto que é para um solitário como Superman saber que deixou de estar só no mundo e que a missão de proteger este planeta passa a ter uma razão ainda mais forte.
O amor de pai encerra assim esta magnifica obra, cuja leitura deste assunto nunca a vi tão delicada assim na BD e podemos considerar que a saga começada em finais dos anos 70 por Richard Donner teve um fim importante.
Comoventemente, literalmente, em "Superman Returns", o filho... tornou-se o pai!
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5 comentários:
Apesar de não o achar genial é um filme injustiçado pois tem momentos maravilhosos, tais como o salvamento que descreves.
Cola-se demasiado ao 1º de Richard Donner, mas é um bom filme. e a voz do Brando uma cereja no topo do bolo.
Também concordo com o que dizes da colagem ao primeiro de Donner. É intencional e foi premeditada mas acho que foi um exagero terem recirado a cena de Superman a voar com a Lois. Era escusado.
É para mim o maior ponto fraco do filme, apesar de ser nessa cena que percebemos a angústia de Kal-El e a necessidade que ele tem em saber que pertence a algum lado (e que tanto procura a razão - e no fim isso chega e pela Lois).
Há neste filme alguns pormenores de Super-Homem impressionantes. Destaco a cena em que ele usa a visaõ de calor como uma cortina de energia para eliminar destroços a cair do ceú e o outro é quando ele sai da atmosfera para se recarregar com o sol amarelo (muitos não se apercebem mas os poderes de Superman devem-se ao nosso sol amarelo...)
Sim é tudo em tom de homenage, mas acaba por ser em excesso. A ideia do Luthor, as bocas, tudo foi feito assim no 1º.
Neste filme estão mais atentos aos pormenores de como um super homem poderia efectuar salvamentos de grande calibre.
Apesar de ser uma continuação dos 2´s primeiros sinto este super um super diferente. O de Reeves é o da era dourada aquele que tudo podia (voava à volta da terra para voltar atrás no tempo) este de Singer é mais parecido com o actual e até se vai recarregar ao sol para vencer no fim.
Exactamente e também concordo com essas observações.
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