"O tema da juventude é sempre uma boa fonte para se criarem filmes com historias em redor do tema. Há montes deles e continuará sempre a haver milhentos mais. Contudo, aqueles que mais aprecio são os que ainda conseguem manter uma base de realidade."
E continuava expondo melhor as minhas razões (ver mais clicando aqui) mas não é esse o objectivo do artigo.
Desta vez surge a oportunidade de voltar ao mesmo e assim dedicar desta vez a rúbrica "Cinedupla", onde o maior ponto em comum é novamente a adolescência e o turbilhão de acontecimentos incontroláveis que acarreta. E é um cinedupla porque também há um outro ponto em comum que é a jovem e muito promissora actriz Kristen Stewart, pois se encontra em ambas as sugestões.
É muito conhecida pela saga "Twilight", onde vive um triângulo amoroso entre um vampior e um lobisomem. Contudo, não são esses os seus melhores filmes, apesar da enorme fama. Já esteve junto da grande actriz Jodie Foster (que perceberão, ver entre ambas algumas semelhanças de inicio de carreira) no filme de David Fincher "Panic Room" e desde então que não tem parado de fazer coisas interessantes e sabe arriscar. Fazer "Twilight" foi uma necessidade de projecção à escala mundial mas temo que a saga vampírica de tão fraquinha e por vezes patética, lhe coloque o estigma da eterna "Bella" indecisa, num papel onde esta menina (de grande potencial talento em evolução como actriz) nunca sobressai em momento algum, atingido mesmo o rdidiculo.
Do lado dela há algo que lhe fica a favor, pois ela não se pode fazer valer de atributos de formosura fisica, pois nisso não os tem (coitadinha neste departamento), excepto alguma beleza discreta e muito comum para se destacar. Tal como Jodie Foster se demarcou, esperemos que o faça sempre como actriz de performances cada vez melhores...
Cinedupla: Speak + Adventureland
O que acho de cada um destes dois filmes:Speak
2004
Realizador: Jessica Sharzer
Com: Kristen Stewart, Michael Angarano, Robert John Burke, Elizabeth Perkins, D.B. Sweeney, Steve Zahn...
"Speak" apresenta-nos a adolescente Melinda Sordino. Melinda é uma rapariga que apresenta um comportamento errático, á margem de tudo e todos. Não fala quase nada e por imposição própria, não tem amigos e amigas, na escola é mal-tratada por toda a gente e ninguém a respeita. E é motivo de popular chacota escolar. Melinda vive em profunda solidão por escolha própria. E tem as suas razões para o seu vazio existencial... ela foi sexualmente humilhada e violada.
"Speak" é um telefilme da ShowTime mas não pode e não deve ser encarado como um produto menor. Na verdade, é uma verdadeira obra de ambito adulto, sério e com grande maturidade cinéfila. Poder-se-ia admitir que será apenas mais uma mera historinha da coitadinha em negação e tal... mas não é. É mais que isso.
É um filme que apresenta implicações profundas que potenciadas ainda pelas questões da fase adolescente, conduzem ao apagão desta menina, que num momento de experimentar "viver a vida" pelos exemplos das outras colegas, se vê perante um pesadelo do qual não consegue evitar e nem mesmo ultrapassar.
Fechada em si mesmo, qual pária da sociedade, em profunda depressão emocional, de tendências preocupantes (o "cozer" dos lábios é algo marcante), cuja revolta para com tudo e todos, incluindo os pais e toda a escola a que é obrigada a continuar a ir ( revivendo constantemente a sua revolta interna)... Melinda um dia descobre na expressão artistica, conduzida por um professor de novos e invulgares métodos de ensino, a sua forma de catarse psicológica.
A realização de Jessica Sharzer é segura e sem grandes artificios, sabe apontar os detalhes com inegável sensibilidade feminina, muito útil neste filme e colocando em imagens os traumas, a solidão, o vazio, a dor, a revolta e a indignação de uma adolescente que nem sequer sabe ainda como lidar com o seu problema, apagando-se em si mesma conduzindo-se à destruição. E quem leva todo o filme aos ombros é a ainda (em 2004) muito jovem Kirsten Stewart, que arranca uma actuação de grande empatia.
Por vezes o filme insurge-se hipnótico visualmente, contemplativo para o vácuo, sendo a própria escola (e os seus corredores e salas) um lugar ora sufocante ora indiferente ora labirintico.
Filme somente recomendado a quem tenha a predisposição e tolerância suficiente para o receber sem pedir nada em troca. Nos meus gostos, é um pedaço de grande cinema muito subvalorizado.
+
Adventureland
2009
Realizador: Greg Mottola
Com: Jesse Eisenberg, Kristen Stewart, Ryan Reynolds...
Um belíssimo filme indie, que nos apresenta as histórias de alguns jovens de uma comunidade local pobre, onde com a chegada do verão aproveitam a oportunidade de terem um emprego em part-time na "feira popular" da zona e assim ajudarem-se a concretizarem os seus sonhos e necesidades. E de sonhos, interesses e paixonetas de verão, passa-se ao vexame... que devido à maldade dos boatos e a más linguas, provocam-se as mais diferentes reacções entre os diversos empregados da feira, culminando na exposição do caso de uma das jovens com um homem mais velho oportunista. Ilusões e amores não correspondidos irão criar uma série de eventos... nesta história de freaks e tótós, sempre em jeito de "dramédia" com um sempre pontual sentido de humor.
É um filme muito cativante de ver. Tem um tom de comédia muito irónica que por via de estarmos perante "nerds" e "freaks" a coisa se torna ainda mais desbocada e insólita por vezes. Consegue ser um retrato do mundo de adolescente sem com isso ser juvenil, que bem longe disso é tratado com imensa maturidade. No fundo, é um xadrez realistico de personagens e situações credíveis, onde os mal-entendidos e a capacidade de se erguer uma rteputação nefasta, conduzirá a dilemas maiores.
Uma realização certinha e sem grandes destaques, sendo mesmo o melhor até o bom elenco presente. Destaque para o Jesse Eisenberg, cuja personagem nos dá a perspectiva dos eventos (hoje acho que ele é um cabotino dele próprio quee não sabe representar de outra forma - não justificando a nomeação ao Oscar para o "The Social Network") e principalmente para a Kristen Stewart, que mais uma vez consegue fazer um papel delicado (de insegurança e perplexidade), sempre com uma naturalidade admirável.
(Spoiler: Acrescento ainda que a Kristen, agora uma adulta, dá um ar da sua graça -sem a roupinha-... mas é com sentido de arte... onde pouco ou nada se vislumbra verdadeiramente.)
É muito tocante... e muito recomendado a quem aprecia ver o cinema dos momentos de vida realistica. Gostei bué.
"And that's all, folks!"
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