sexta-feira, 24 de julho de 2009

Cinedupla: Donnie Darko + S. Darko

"Wake up!"
E se de repente fosse acordado por uma voz tenebrosa a dizer que dentro de dias o mundo vai acabar?
"Wake up!"



Donnie Darko
(de Richard Kelly, 2001)


Um dia Donnie Darko é acordado a meio da noite por uma voz tenebrosa e o que vê é um tipo mascarado de coelho. Este coelho, chamado Frank, diz-lhe que o mundo vai acabar e dá-lhe o tempo exacto que lhe resta. São apenas alguns dias...
Donnie volta a acordar e nota que esteve a dormir na rua. Donnie é sonâmbulo. Teria imaginado coisas?

Aparentemente não, pois passam-se situações e há pessoas que despertam a atenção de Frank na escola e nas redondezas também, principalmente pela velha louca que passa a vida a repetir a mesma tarefa de ver o correio. Um outro facto é um dos professores entregar-lhe um livro sobre as teorias das viagens no tempo e Donnie relaciona aos alertas do misterioso coelho. Coelho esse, o Frank, que também pede a Darko para fazer coisas ainda mais estranhas (inundar a escola, pegar fogo à casa de um pedófilo, vandalizar a estátua, etc) mas que aparentam ser igualmente os desejos adolescentes do próprio Donnie Darko.



Este é o tipo de filme que nos faz interrogar e criar teorias. Muito inteligentemente abraça questões de ficção-científica, como as viagens no tempo, universos tangentes (ou mundos paralelos), paradoxos temporais, que nos últimos tempos nos habituamos a lidar com algumas séries como "Lost/Perdidos" ou "Fringe". No entanto a abordagem não é tipica e convencional, pois nele co-habitam variáveis pouco habituais, além de passar-se nos finais do anos 80, lida ainda com questões da adolescência, a escola e o sistema educativo, a sociedade, a familia e ao inicio até com divergências politicas. Donnie toma medicamentos e é acompanhado por uma psicóloga e revela nessas sessões que conhece o coelho Frank. Será um amigo imaginário devido á medicação ou é realmente alguém de outra dimensão que vem do futuro.

No meio de imensas questões, a mais saliente acaba por se tornar como compreender o porquê da história elíptica do filme e de Donnie Darko, perante as informações que o estranho Frank lhe revela e provam mesmo estar relacionadas com a vida de Darko. É por aí que a história e o seu desfecho torna tudo invulgar, ao ponto de parecer que o fim é o inicio, de tal forma como se este fosse um segredo que apenas o sabe quem vê este filme (além de Darko só nós sabemos e ouvimos o coelho), como se nunca nada disto tivesse se acontecido e nem sequer as personagens alguma vez o soubessem. Mais grave ainda passa por entender que os acontecimentos são inevitáveis e que o que nos foi dado foi apenas uma chance alternativa.
A partir do momento que encaixamos a engrenagem do filme, as questões assaltam-nos o raciocínio e a vontade de voltar a ver o filme torna-se a justificação para entender os processos, só que ao ver de novo ainda mais questões aparecem.

É um filme que não tem uma explicação simples. De facto é quase um filme ao como os de David Lynch, sem uma explicação linear pois na verdade ele permite tirar imensas conclusões e as mais rebuscadas teorias.
É quase como se Lost ou Fringe se tivessem inspirado no paradoxo existencial deste filme.

"Donnie Darko" é um filme de culto, imaculado de originalidade e conceitos, encerrando-se nele mesmo (o arco da história impede as sequelas)!
Brilhante e intrigante!


Obs: a versão Director Cut, o escritor/realizador Richard Kelly, não é tão interessante como a original que mostra menos e faz pensar mais.

Curiosidades: o elenco do filme é muito curioso e até improvável: Drew Barrimore, Patrick Swayze, Jake Gyllenhaal, Maggie Gyllenhaal, Mary McDonnel (sim é a da BS Galactica), Daveigh Chase (ainda pequenina). Neste filme Jake Gyllenhaal e Maggie Gyllenhaal, que são irmãos na vida real, fazem também o papel de irmãos no filme. E são birrentos e irritantes como irmãos...
A banda-sonora é igualmente memorável.


S. Darko - A Donnie Darko Tale
(de Chris Fisher - 2009)

Depois de um filme como "Donnie Darko", a eventual hipótese de este conto vir a ter uma continuação, é algo que poderá não parecer interessante. Apesar de querermos mais, a existência de uma sequela a este filme de culto, tão isolado e não é lá grande ideia ver um filão de contos a arrastarem para a lama a complexa arquitectura que Richard Kelly ergueu. Também porque uma sequela nunca poderia ter a personagem que dá vida ao filme, o próprio Donnie Darko...

Então como pode ter este filme uma sequela?
Facto ainda mais preocupante quando se sabe que a sequela já está feita, que só terá um único elemento do filme original (a irmã mais nova de Darko, a Samantha, que no filme principal era mais que secundaria) e que a sequela nem sequer passou pelas salas de cinema.
Instala-se a ideia que a sequela vai ser mesmo do pior que há e mais uma daquelas intragáveis.
Será mesmo? Sim e é uma pena...



"S. Darko" tenta expandir o universo que Richard Kelly desenvolveu para novas paragens e consequências. O tom do filme é também algo diferente, é tipo um thriller estranho e roçando ares de típico filme de terror na sua tentativa em ser perturbante.

Esta sequela faz a ligação ao anterior por exibir as cenas da irmã de Darko no filme de 2001 e por a personagem ser interpretada pela mesma actriz, a Daveigh Chase, mas agora 7 anos depois (portanto já bem crescida) como uma adolescente atormentada, em fuga da família e da cidade em que vivia.

Na verdade, acho que "S.Darko" é mais um dos muitos filmes xungas que regularmente vão saindo. Só que este tenta ser melhor qualquer coisa que o normal ao trazer uma história que se serve dos princípios do filme de 2001 como ponto de partida para avançar com algumas variantes por explorar.

É por aí que consegue ter alguma originalidade, juntando aos anteriores conceitos um novo dado: o efeito-borboleta.
Aliás, o efeito-borboleta é usado várias vezes e torna a esparsa narrativa em algo intrigante, conseguindo ainda dotar a redenção à personagem principal, facto que aparentemente não é claro em "Donnie Darko". E no fim deixa instalado o mesmo sentido que o anterior deixava: só o espectador é que sabe do segredo deste conto e de como tudo poderia acontecer, evoluir e como foi alterado.

"S. Darko" é bem inferior a "Donnie Darko", que apesar de não ser uma repetição e ter alguns ingredientes novos, não consegue pedir para ser visto de novo pois não resta mais sumo para ser espremido.
É uma fantasia ainda muito mais bizarra, para se ver apenas por curiosidade e somente se já tiver visto o original. Caso contrário nem sequer se torna compreensível este... tales from the Darko!


"Wake up!"

9 comentários:

Nuno Pereira disse...

Sim, vi esse filme com algum agrado devido a ser um genero que gosto muito, no entanto e pessoalmente acho-o muito OVERRATED pelo publico cinefilo.

O S.Darko deverá ser filme que não verei, excepto se passar na TV e eu não tiver nada que fazer.. o que começa a ser dificil!

cumnpts.

Bruno Ramalho disse...

a versão director's cut é mais curta que a versão que andou a circular nos cinemas?

ArmPauloFerreira disse...

A versão Director's Cut é maior que a versão original, que é mais claro nakguns detalhes e tem mais pormenores... a banda-sonora é diferente também, etc.

Bruno Ramalho disse...

ah, ok, já entendi a tua observação no post.

gostaste mais da versão cinematográfica portanto? :)

ArmPauloFerreira disse...

A 1ª vez que vi o filme foi em DVD pela versão Director' Cut. Na altura o filme não me fez aquele "click". A culpa também foi minha pois alugava vários filmes para ver durante o fim-de-semana e esse foi um dos muitos. Só se falava naquilo e trouxe-o... mas vi-o muito late night e não me despertava nada de especial.
A versão original, a de 2001, vi depois e realmente encantou-me muito. Um dia destes vou dar nova chance à segunda versão, a Dir. Cut do R. Kelly, que talvez por ter visto recentemente o filme orioginal outra vez (devido ao S. Darko) a encaixe melhor agora.
Curiosamente andei a investigar pela net e há uma opinião generalizada semelhante á minha: a única versão que importa é a original. A segunda é tipo complementar...

Bruno Ramalho disse...

também tenho lá o Director's Cut para ver já há algum tempo.

tenho de tratar disso um dia desses :)

David Martins disse...

Gosto muito do original, odiei a "sequela". Nasp, talvez seja overrated, mas foi um filme que vi na altura certa, e é quase tudo perfeito pelo menos para mim, que da primeira vez que o vi - recomendado por um amigo - fez o meu cérebro explodir, no bom sentido :-)

David Martins disse...

A directors cut acho que é mais longa, mete cenas desnecessárias e as musicas originais, mas pelo que tenho lido torna o filme mais vulgar e menos enigmático

ArmPauloFerreira disse...

@ Cine31: Sim, o S.Darko foi pedir demais... foi um guilty pleasure... sem no final se ficar sem algum pleasure por o ver.

A Director Cut do Donnie Darko, é maor e mais explicativo com todas as cenas adicionais. Foi a primeira versão que vi apesar de ter adormecido várias vezes durante o filme. O maior crime desta versão é não ter na banda-sonora a canção "Killing Moon" dos Echo and The Bunnymen (só o nome da banda e o titulo da canção parecem ter sido criados de propósito para o filme - mas já existia há muito mas muito tempo antes -anos 80). A distinção quer faço entre ambos é ao notar que no inicio do filme na Director Cut não dá esta música...

Donnie Darko, o original (e a Dir.cut também) é mind-blowing total!