sexta-feira, 27 de maio de 2011

Cinedupla: Niagara (1953) + Kiss Me (2004 -PT)

Sem inspiração para fazer um mero post de jeito aqui neste pasquim perdido na blogoesfera, acabei de a encontrar pelo excepcional blogger Francisco Rocha, do My One Thousand Movies.

Vejam só que deu-me até uma razão para recuperar a minha antiga rúbrica das "sessões" duplas, as criticas aos pares. Sim, se uma minha critica já é por si longa, quando o artigo é composto por duas... é mesmo massivo e expansivo!  (But... who cares here?)


E o que pode haver de mais inspirador do que a musa das musas, a deusa-mor das deusas cinéfilas... que a eterna sex-bomb Marilyn Monroe?


Nenhuma!
(ora bem... quer-se dizer...)


Avancemos então para as criticas a: Niagara (1953) + Kiss Me (2004 -PT)







"Niagara"
1953

Realizador: Henry Hathaway
Com: Marilyn Monroe, Joseph Cotten, Jean Peters, Max Showalter...



Premissa (à minha maneira): O casal Loomis (Marylin e Cotten) estão a gozar férias em Niagara Falls, apesar da sua relação ter-se gradualmente agravado e piorado com o tempo. Encontram um outro casal, os Cuttlers, que gozam a sua lua-de-mel e estabelecem empatia. Acontece que a Polly Cuttler descobre acidentalmente que a deslumbrante loira Rose Loomis tem um caso com um amante, Patrick, apanhando-os num apaixonado beijo lá por perto, que cedo se apercebe que algo mais se passa e estará para acontecer.
Rose e o amante planeiam assassinar o marido George Loomis e nas cataratas de Niagara. E as investidas de Polly conduzem-na ao abismo, vendo-se raptada e mais tarde à deriva num barco com a queda eminente nas próprias cataratas de Niagara...


Ora bem...
Desde sempre fiquei impressionado pelo "Niagara", tem uma veia á Hitchcock, que  mesmo não chegando aos calcanhares do grande mestre, consegue ser plenamente interessante com uma história e condução muito simples e sem grandes elaborações. No fundo, o que o filme faz é colocar uma premissa em marcha e levar rapidamente ao fim.
É um filme de suspense mas não se pode dizer ser um dos pilares no tema. A verdade é que entendo que este é o filme onde Marylin Monroe, aqui nos seus primeiros papeis no cinema, prometia uma carreira auspiciosa. Ela rouba todo o filme, é magnética para a camera e diria mesmo que foi daqui que se exacerbou a sua faceta de icone e dive do cinema. Marylin neste filme faz um papel sério, algo que se viria a perder nos filmes seguintes, ao a terem confinado a géneros mais simpáticos" e de maior apelo... mesmo assim teve momentos altos e inesquecíveis.


Marylin Monroe fez com que este filme não fosse mais votado ao esquecimento, assim como ainda cantou a bela canção "Kiss me"... que imediatamente se torna impossível não deixar de lado o filme que se segue.


+



"Kiss Me"
2004
Portugal

Realizador: António da Cunha Telles
Com: Marisa Cruz, Manuel Wiborg, Nicolau Breyner, Susana Mendes, Rui Unas...


Premissa: Laura, uma jovem da provincia, sem conhecimento das matreirices da vida, vê-se a ter de casar com um homem violente que só a trata mal. Por vezes, refugia-se com o seu filho mas acaba sempre arrastada para a vida violenta do lar, ao qual nem a mãe lhe dá ajuda nos momentos difíceis, obrigando-a manter as aparências (a farsa) de ter um bom casamento.
Laura decide um dia fugir e vai assim parar a Tavira, onde com a ajuda de uma familiar, uma tia cujo comportamento emancipado e desinibição, a inspiram a se transformar numa nova mulher mais segura. E Laura, inspira-se em plena sala de cinema perante o filme "Niagara", passando assim a se comportar e sobretudo a se parecer com uma Marylin Monroe portuguesa, facto que lhe fará ter homens a persegui-la e cortejá-la, sempre que passa ou onde quer que esteja. Ela é magnetica aos homens... e a dois em particular, que de maneiras diferentes a vão estar sempre a acompanhar nos momentos bons e... nos maus.


Ora bem...
Se há filme português muito subvalorizado, é este (penso eu). António Cunha Telles, ergue aqui uma deslumbrante obra a todos os níveis, um drama onde se acompanha a libertação pessoal de uma mulher que de tudo faz para sair de uma existência oprimida e se transforma noutra, emancipada mas que mesmo assim lhe conduzirá a novos dramas existenciais. Não é uma história de amor mas sim o desejo de alcançar o amor.

Tal como em "Niagara" era a Marylin Monroe quem dominava o ecrã, em "Kiss Me" estamos perante o mesmo mas com uma Marisa Cruz num verdadeiro estado de graça.
Ela está verdadeiramente impressionante, naquele que foi para mim uma escolha perfeita de casting pois ela trespassa para o ecrã todo um imaginário que carrega com a sua figura, onde as suas falhas como actriz acabam-se diluindo na construção gradual da personagem que interpreta, onde mais que uma simples Laura, ela faz mesmo até uma dupla performance, com uma personagem sobre outra personagem. Marisa Cruz faz isso com uma habilidade que chega mesmo a surpreender.
Digo mais até, foi uma pena enorme não terem investido mais nela para novos voos assim, pois ela enche o filme totalmente, desenvolvendo-se numa candura até por vezes hipnótica.


Tem uma excelente produção (a recreação de Tavira dos anos 50/60 é convincente), uma boa fotografia (há planos de Marisa de puro deleite visual que parecem exigir ficarem em suspenso) e depois a caracterização de época é fabulosa e fundamental (os costumes e principalmente as vestimentas ocupam uma importãncia vital). Se referi as vestimentas, o caso mais impressionante é o autêntico desfile dos visuais de Marylin Monroe, não só a reprodução dos vestidos é primorosa tal como o são os penteados e uma imensa parafernália de acessórios (radio, discos, cartazes, carros, etc).


"Kiss Me" é um tour de charme, de imensa sedução, um tributo a Marylin e a todo um imaginário numa história que consegue ser totalmente portuguesa sendo esse o maior trunfo desta magnifica obra.
Por fim, encerra em si também uma verdadeira homenagem a todos as mães do mundo (o quão bonito é quando o tributo parte dos filhos) e ao realizar de sonhos perante tantas adversidades.

Um filme português fundamental e altamente recomendado.

Mas isto sou eu a dizer... não espero que concordem.

4 comentários:

My One Thousand Movies disse...

Por acaso tenho o DVD do Kiss Me ao tempo, e ainda não vi porque estava um pouco de pé atrás com o filme (por causa da Marisa Cruz). Mas agora depois deste teu artigo deu-me vontade de ver, hehe. O meu preferido da Marilyn é sem dúvida o Misfits. Talvez o seu filme mais trágico.

Abraço

ArmPauloFerreira disse...

Muito obrigado Francisco pelo comentário e pela atenção. Na verdade foi o teu teaser sobre a próxima semana dedicada à Marylin que deu luz a fazer todo este post e duma assentada. Para mim o filme português é um sucedâneo do imaginário da Marylin e sobretudo do referido Niagara, de tal forma que quando recordo um imagino o outro. O Kiss Me (2004) até tem o título em homenagem à canção que a Marylin canta no seu filme (e que a Marisa igualmente faz a sua cover bem inserida durante o filme). E digo que vale a pena ver a Marisa e para mim foi triste ela não ter repetido a experiência. Eu gostei muito do filme nacional. E acredita que as duas reviews foram escritas mentalmente (já não os vejo a ambos à longo tempo - mas estes são inesquecíveis...)
Pode até ser que nem gostes (sou muito tolerante com os filmes) mas acredito que irá te surpreender...

E espero atentamente essa próxima semana, que vai ser irrecusável... esses links vão até escaldar. Já os espero!

My One Thousand Movies disse...

Vou deixar para o fim um documentário sobre a morte da Marilyn que é simplesmente maravilhoso. Vais gostar :)

ArmPauloFerreira disse...

Óptimo então. Já sabia e força com isso!
Vai ser uma semana interessante, acredita.