domingo, 23 de outubro de 2011

Cine-critica: The Last Days Of Disco [1998]

The Last Days of Disco
[1998]


Realização/argumento:
Whit Stillman

Com:
Chlöe Sevigny, Kate Beckinsale, Robert Sean Leonard, Jennifer Beals, Chris Eigeman, Matt Keeslar, MacKenzie Astin, Matthew Ross, Tara Subkoff, Burr Steers, David Thornton, Jaid Barrymore, Michael Weatherly...

Sinopse (via Interfilmes): "Nova York, início dos anos 80. A era disco está chegando ao fim. Em uma das mais badaladas discotecas da cidade, um grupo de jovens se encontra, dança e se diverte. Charlotte Pingress (Kate Beckinsale) e Alice Kinnon (Chloë Sevigny) são recém-formadas e trabalham em uma editora. À noite, procuram novos amores nas pistas de dança. Alice está de olho em Tom Platt (Robert Sean Leonard), um advogado ambientalista que acaba de romper com a namorada, e no publicitário Jimmy Steinway (Mackenzie Astin), mas seu jeito tímido e conservador não a ajuda muito. Em contrapartida, Charlotte é sexy e extrovertida, no entanto vive dando conselhos duvidosos para a amiga. Quando decidem dividir um apartamento (juntamente com Holly) os conflitos começam e cada uma passa a procurar o seu próprio caminho."


Ora bem...

As duas actrizes principais, as ainda muito jovens Chloe e a Kate, aqui em grandes actuações memoráveis e que fazem gravitar em seu torno tudo o que se passa em "The Last Days of Disco".

A Chloe Sevigny numa actuação de grande categoria, que compõe detalhes que emprestam muito à sua personagem, onde se percebe claramente ter qualidades acima da média. Uma rapariga atinada, que procura progredir e singrar no mundo do trabalho mas contudo é muito insegura, delicada e até mesmo envergonhada.
Kate Beckinsale brilha, faz o seu papel de forma muito credível ao mesmo tempo que se percebe nela as inseguranças disfarçadas de ser uma jovem que se quer divertir, que quando fala é cruel e marca o filme com frases corrosivas e demolidoras. Kate Beckinsale é convincentemente uma daquelas amigas egoistas, que é mesmo uma grande "bitch" e que confiante do seu belo aspecto se vai tornando a rainha do grupinho das saídas noturnas. Uma personagem que está constantemente a criticar a colega (e os amigos), deixando-a normalmente pouco à vontade perante os amigos, até envergonhando-a várias vezes. Facto que se tornou habitual até...

Ambas são colegas que estão há muito tempos juntas, desde os tempos da universidade para o mesmo emprego (editora), decidem a partilhar em Manhattan um apartamento a meias e saem juntas acabando igualmente por pertencer ao clube vip de disco. Tudo normal, não fosse na verdade, as duas disfarçarem a amizade quando... na verdade odeiam-se mutuamente.


"Alice, one of the things I've noticed is that people hate being criticized"


Uma componente interessante do filme é que se passa na mudança de tempos dos 70s para os anos 80s, das modas em transição (o fim do disco sound), a vivência dos clubes onde a malta mais "in" socializa e as personagens igualmente em mudança de maturidade e condição social, num filme sobretudo construido de muitas conversas, muitas das vezes diálogos contundentes e capazes de ter argumentos para todo o tipo de assunto acreditando que são os mais espertos.

Confusões entre elas, a vontade de se emaciparem a vários níveis, relacionamentos confusos, crises e sucessos profissionais, algumas personagens com negócios noturnos em ruína, emoções reprimidas, revelações gay, há de tudo um pouco... num filme onde o disco-sound vai desfilando como se fosse a despedida de um género musical a dar também as últimas de relevância.

A destacar obviamente, a elevada qualidade da banda-sonora, que por aqui passam variadas das boas canções disco (Diana Ross, Evelyn King e muitos outros), constituindo-se uma delicia pura musical.


"What if in a few years we don't marry some corporate lawyer?
What if we marry some meatball, like you?
Or not you, personally, but someone with similarly low socioeconomic prospects."


À medida que no inicio dos anos 80, as discotecas também se encontram em mutação e a malta que pertencia como membros dentro destes clubes cada vez mais se sentem fora deles e desenquadrados... conduzindo a uma espécie de alienada comparação social.
Em "The Last Days of Disco", nada termina como começou... e é uma boa surpresa, este filme que até pertence á selecção Criterion!

Classificação:
7,5/10

2 comentários:

João Sousa disse...

Não vi ainda este filme - posso ter as minhas taras, mas não sou um stalker :-) Apesar disso, aqui vão alguns pensamentos laterais.

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É uma daquelas coincidências perfeitamente inócuas mas às quais eu acho piada. Num episódio de House, em que este ia ter um encontro com a Cameron, e toda a gente lhe dava conselhos mais ou menos sinceros, ele acaba por dizer ao Wilson (Robert Sean Leonard) para não o chatear mais pois já tinha tido outros encontros antes. Wilson respondeu-lhe que "Not ever since Disco died". E eis aqui, Robert Sean Leonard, n'Os Últimos Dias Do Disco, a presenciar a sua morte.

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Há um artifício que é usado com alguma regularidade na ficção: fazer coincidir um episódio marcante na vida das personagens com um ponto de viragem na História. Quando não é feito com talento e/ou subtileza, fico sempre com a sensação se ser uma metáfora demasiado óbvia e forçada. Sou, no entanto, mais benevolente quando o contexto de fundo é a música. Talvez seja porque a música, e em particular os fenómenos pop, tende a marcar a sua época sendo, ao mesmo tempo, resultado dela.

Acho francamente simpática esta ideia de os personagens estarem a entrar na vida adulta, deixando para trás a despreocupação da juventude, ao mesmo tempo que a música que os acompanhou, o Disco com a sua despreocupação hedonista, também se tornava uma outra coisa diferente.

É possível que esta minha reacção se deva a parte dos meus primeiros anos ter o Disco na sua "banda sonora". Para quem é jovem, deve parecer difícil de acreditar, mas tempos houve, há uns 30 anos, em que uma chuva mais forte (como esta que cai enquanto escrevo) era quase sempre sinónimo de falhas na electricidade. Isto acontecia mesmo em zonas perto de Lisboa - a suposta "civilização". Quando eram oito e meia ou nove de uma noite de Inverno, depois de jantar e sem luz para televisão ou ler, uma das poucas soluções viáveis passava por acender um par de velas e ligar o rádio a pilhas para ouvir o incontornável "Discos Pedidos". Lá estavam, intercalados com o Tony de Matos e Paulo Alexandre, os Bee Gees, Boney M ou Blondie.

Apesar de tudo, eram bons tempos, estes em que sabíamos tirar prazer das coisas simples.

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Eu sei que já critiquei a era Disco, e mantenho. Mas também mantenho que não há uma única época musical em que a mediocridade/piroseira não convivam com a genialidade. O New Wave deu-nos Adam And The Ants - mas também nos deu Souvenir dos OMD. O Disco deu-nos, nem sei, tanta coisa horrenda - mas também nos deu Heart Of Glass dos Blondie.

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E como podes ver, consigo escrever um longo comentário sem babar-me em encómios pela sra. Beckinsale.

Mas eu só gostava que alguém me explicasse isto: que absoluto mentecapto contrata a sra. Beckinsale para um filme e a põe a falar à americana? Mas que enormíssimo idiota. Deixem a sra. Kate falar com o seu sotaque, aquele delicioso sotaque que lhe parece deslizar dos lábios e me aquece, enquanto imagino devassidões para as quais estou certo ainda não terem sido inventadas palavras.

ArmPauloFerreira disse...

Ah ah ah ah... vejo que te é tremendamente inspirador quando a Beckinsale entra ao barulho... e não me admiro até pois... é isso mesmo.

Espectacular esse encaixe que vai da serie House até este filme a respeito de conselhos e encontros... "Not ever since Disco died" (Robert Sean Leonard - sim também me lembrei logo da série House por ele pertencer nela mas mais que isso é que não - bem visto!).

Quanto a este filme, é altamente recomendado... eu penso que a minha nota é até mesmo injusta pois o 8/10 seria perfeito também mas... não quis exagerar. É muito bom e a selecção de disco-sound que por aqui passa e até se pode descobrir na OSt isso o confirma. Mas é mais que um filme sobre o Disco, e dança... é muito mais que isso e vale bem a pena o descobrir.
Muito obrigado pela qualidade da participação, João!