Bjork
"Biophilia"
(2011)
Não há maneira de se ficar indiferente a Bjork. Mais que uma mera cantora, esta islandesa é uma verdadeira artista porque consegue ser transversal em termos artísticos, partindo do género musical e acabando a abraçar outras artes. Ela já conseguiu provar que o que faz lhe sai da alma, quer seja como actriz na, inesquecível e única vez que a vimos no cinema (sob os comandos de Lars Von Trier no magnifico "Dancer In The Dark"), quer seja pela sua fashion aparência cuidada e notória em termos de moda (normalmente criações elaboradas e ostentativas), quer seja nas suas desafiantes criações musicais e por fim, pelos seus elaboradissimos videoclips (que acabam por ser os expoentes das suas manifestações artísticas ao serem a soma de todas as partes).
Sempre admirei Bjork por ser arrojada, nunca baixar os braços ao facilitismo, não seguir facilmente as modas sonoras do momentos, optando sempre por seguir indícios das tendências mais na berra e que desponta no momento presente. Tudo isto coloca-a como uma artista que arrisca imenso. Ela corre riscos.
Ela tem corrido riscos. Se os anos 90 correram-lhe de feição, a verdade é que foi apartir dos anos 2000 que a temos visto optar por caminhos menos consensuais no intuito de se demarcar do que já fez antes e evoluir sonora e artisticamente. Recuando no tempo, estes factos já se evidenciavam quando em 2002 lançava um best of, o "Greatest Hits", onde as canções eram escolhidas pelos fãs, como quem começava encerrava um capítulo musical e dava inicio a arrumações para o sótão do que fez antes e assim expandir as suas vontades. Contudo, antes desta colectânea ela lançava o "Vespertine" em 2001, um álbum sombrio e delicado mas tão delicioso que talvez seja mesmo o seu mais importante registo de sempre. Seguiu-se o álbum "Medulla" em 2004, que era um registo de electrónicas alternativas em desconstrução bastante elaborado com um uso de coros próximos do tribal, sendo que o efeito que o disco deixava era um curioso sentido de escuridão e ao mesmo tempo perturbação. Com o disco seguinte em 2007, o "Volta", Bjork aprofundava ainda mais os caminhos que seguira até aí. É aqui nesta fase que para mim seguir esta artista, com o fervor de outrora, se desvanecia. Bjork era uma artista no chamado "fio-da-navalha".
É nesse mesmo fio da navalha que, em 2011, o seu regresso aos discos se mantinha e o álbum "Biophilia" confirmava. Sinceramente, é um álbum difícil, assente num minimalismo evidente e que evita a todo o custo qualquer aproximação ao mundo pop. É um álbum arty, adornado por diversas construções electrónicas que requerem habituação de quem ouve. Requer que se entranhe para não se estranhar. "Biophilia", lançado com imensa pompa-e-circunstância pela actriz, usando as novas capacidades tecnológicas do mundo, nomeadamente lançando uma aplicação para iPad/iPhone onde gradualmente ia dando a conhecer as faixas como se estivesse a construir um edifício sonoro (na verdade foi literalmente isso que aconteceu). Contudo, por mais erudição sonora que desfile num álbum complexo e desafiador, o que tem de sobrar são canções. E aqui as canções são, além da continuação do caminho seguido durante uma década, "construções" musicais estranhamente admiráveis mas que não vingam verdadeiramente para mim.
"Crystalline"
Há um travo de neo-psicadelismo, de recuperação de sonoridades antigas e muito eruditas em conflito com uma ideia de futurismo (ouvir por exemplo a dupla "Sacrifice"+"Mutual Core"), num todo que se afigura progressivamente conceptual, coeso e extremamente modernista.
A destacar (para ouvir mais vezes): o arranque do álbum, feito com 3 faixas que funcionam muito bem seguidas, as "Moon" + "Thunderbolt" + "Crystalline", realmente espantosas. Não será à toa que duas destas têm videoclips...
"Moon"
"Virus"
Depois mais para a frente as "Virus", "Dark Matter" e "Nattura" são as que mais se evidenciam. É um álbum que é muito intimista e bom para ser escutado na solidão. Mesmo assim é para corajosos porque tudo isto está no "fio-da-navalha"... e nesta condição a aceitação de escutar "Biophilia", tanto pode cair facilmente para um lado como para o outro.
Simplificando: "Biophilia" não é lá grande coisa e a prova disso é que ao longo de um ano, raras vezes o ouvi... mas isto sou eu!
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