Norah Jones
"Little Broken Hearts"
(2012)
Uma capa cheia de inspiração retro e de evocação ao mistério e crime? Hummm... |
Primeiro de tudo não sou nenhum especialista na obra discográfica da Norah Jones. Há uns bons anos atrás, ela surgiu nos escaparates com uma toada jazzistica de adornos pop muito bem sucedida. Contudo, a sua temática jazz mais parecia ser daquela para alimentar concertos para audiências de faca e garfo mais ou menos interessada pela animação musical desfiladora de canções suaves entre covers de sucesso e criações de veludo onde tudo está certinho. Obviamente que a juventude e o bom aspecto da cantora ajudaram a "vendê-la" melhor. Mesmo assim, acho que foi desde a Norah Jones sempre parecendo uma fórmula mais ancorada no caminho desbravado duma Diana Krall, que propriamente uma marcação personalizada na música.
Mas que caraças, ela tinha um bom punhado de canções orelhudas como "Come Away With Me" ou "Turn Me On" do disco de estreia (2001); e no álbum seguinte a doce "Sunrise" inundava tudo o que servisse para passar musica. Com o álbum de 2006 (ou 2007?) "Not Too Late", ela dizia que ainda não era tarde para demonstrar mais identidade própria mas a verdade é que o que mais sobrevive do dito é a canção "Thinking About You", que continuava a acentuar ainda mais a ideia que dela fazia. Uma cantora interessante sim mas que dela mantinha, aqui no meu iTunes, apenas um punhado de sucessos e algumas mais. O estigma de Norah Jones (de ser aquela popzinha-jazzy-doce sem altos e baixos) foi ficando... até agora em 2012 isso mudar totalmente.
A Norah Jones em 2012, com a ajuda do produtor Danger Mouse, atira-nos para o colo um álbum daqueles que faz olhar para ela com uma renovada percepção. Primeiro de tudo, distancia-se do jazz-para-jantares, volta a partir da sua temática das aparentadas de love-songs com dor de corno ou de cotovelo, soa a pop-rock retro... e ela surge a cantar digna de uma bitch fodida com a vida (amorosa). Desta vez ela quer sangue... mas faz tudo isso sem o estardalhaço das comuns attention whores do mundo da pop.
Norah Jones, surge maquivélica, refinada e quer mesmo tratar da saúde a alguém.
Puxa vida, temos disco!
"Happy Pills"
Frieza, calculismo, requintes de malvadez, disfarçada sociopatia aguda, num álbum ambientado por uma aura fantasmagórica, onde ela faz uma lavagem das intenções de uma alma perdida: é o seu o coração partido.
A calmia sonora continua mas chega agora bem diferente, pois aqui é criada para existir tensão emocional, enquanto ela canta as desventuras de ter sido traida. Qual crooner a cantar a dor-de-corno, as subtilezas das suas letras disfarçadamente são de cortar à faca e celebradas como canções, que assim que se as percebe configuram um álbum conceptual, que gradualmente vai confirmando que esta pessoa quer rebentar e fazer coisas... coisas más. Alguém vai pagar com a vida, perante tanto veneno desfilado suavemente.
"4 Broken Hearts"
Musicalmente começa bem com as duas "Good Morning"/"Say Goodbye", mais á frente as coisas começam a ser estabelecidas em "She's 22", airosamente se aponta um tempo "After The Fall", deixa-se um contundente manifesto com tudo mais às claras em "4 Broken Hearts" (magnifica canção, das melhores do álbum), sentimos que o perturbado plano é colocado em marcha desde a "Travelin' On" à alegria irónica de "Out On The Road" que algo já não tem retrocesso.
Ninguém te está a ver agora e com aquela atmosfera na penumbra, ui... tudo ajuda! É agora, Norah! |
É aqui que entramos na recta final deste épico musical, servidos pela popularucha "Happy Pills", que com o seu magnifico video (mais acima) somos os cúmplices desta sociopata, que não descansará sem avançar para friamente tratar da "Miriam" pois (magnifica canção, cujo video, nem de propósito, continua a acção do "Happy Pills"). O que está feito, está feito.
(ver o video de "Miriam" até ao fim, sff).
"Miriam"
Norah Jones 'Miriam' by Philip Andelman from Partizan on Vimeo.
Está tudo agora resolvido... e qual femme fatale tem o seu momento final, com aparente apaziguamento para uma última canção (e tremendamente maravilhosa). Ela diz-nos que não foi nada nada assim, passou-se tudo na mente dela ou foi tudo isto "All A Dream". Sim, sim... acreditamos mesmo nisso Norah. Bitch please, not now!
Um disco cinematográfico, com um guião, um campo sonoro admirável e que marcha sempre intimista. Era fixe se toda a pop tivesse este alcance e dimensão.
Bom disco, para fazer companhia... entorpecida!
Awesome!
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