sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Tindersticks: novo album The Hungry Saw e a passagem pelo Sudoeste

Este ano de 2008 tem sido um ano de regressos de algumas bandas/artistas ás edições discográficas.

Já tivemos este ano novos trabalhos dos Portishead, Tricky, Spiritualized, The Verve, best of's dos Radiohead, dos The Cardigans, etc... e  também novo registo dos Tindersticks, uma das muitas bandas de culto máximo dos anos 90 (desde essa altura -1994- muito amada pelo povo português).

Os Tindersticks, são uma banda rock alternativa que surgiram às edições discográficas em 1994, com um álbum homónimo (célebre capa com a pintura de uma bailarina) e praticavam uma sonoridade rock marcadamente indie melancólica mas cantadas ao mais puro estilo crooner, com influências no rock de recorte mais clássico.
Multi-instrumentistas, posi recorreram desde sempre aos mais variados instrumentos, desde os xilofones, pianos, violinos, incluindo pequenas orquestras com cordas e sopros, sempre em sintonia com os instrumentos convencionais de uma banda rock.

Foram evoluindo ao longo da sua carreira e tornaram-se cada vez mais melâncólico, cantando a dor-de-côrno em modo hiper-romântica muitas vezes polvilhada com orquestrações luxuosas.

Fizeram ao longo dos seus discos vários duetos com artistas femininas, sendo o mais célebre o protagonizado com a actriz Isabella Rosselini na fabulosa canção "A Marriage Made In Heaven".
A determinada altura apresentaram-se até com ares soul à antiga ("Simple Pleasures" 1999 e "Can Our Love" 2001).

Escutem agora alguns exemplos do legado criativo dos Tindersticks:

"Marbles" ("Tindersticks 1", 1994), ao mais puro estilo Velvet Underground...





"A Marriage Made in Heaven" ("Donkeys 92-97", 1997), dueto magnífico...





"Can we start again" (Simple Pleasures, 1999), um título irónico q.b. ...





video "Sometimes it hurts" Featuring Lhasa de Sela (Waiting for the Moon, 2003)


Os Tindersticks, editaram em finais de Abril deste ano, aquele que é o seu sétimo álbum de originais, o "The Hungry Saw". Para este álbum surgir, a banda teve de passar por alguns anos de introspecção e saber se valia a pena os membros que a compõem lançar um novo trabalho, pois as coisas andavam conturbadas entre os membros e desde o anterior lançamento, o excelente "Waiting For The Moon" de 2003, que haviam parado de se entenderem e alguns lançaram até os seus próprios projectos.

Estranhamente nos discos de 2001 e 2003, respectivamente no "Can Our Love" e no já referido "Waiting For The Moon" já se pressentia algo de errado pois fomos sendo presenteamos com dois vocalistas: o habitual Stuart Ashton Staples e mais estranho ainda o violinista da banda Dickon James Hinchliffe aventurou-se a cantar alguns temas (e que valentes faixas ele concretizou, posso já lembrar...) 


O projecto a solo de Stuart Staples

Na verdade dá para perceber que o vocalista, Stuart A. Staples, nunca havia deixado a lida musical e ao bom estilo musical dos Tindersticks lançou dois álbuns, sendo que o último, o "Leaving Songs" de 2006, teria tudo para poder ser considerado um álbum da banda... mas não o era.
Na verdade, Staples lançou a solo um portentoso disco, magnífico até... mas muito ignorado por aí.
Em "Leaving Songs", os títulos que Stuart Staples deu a algumas faixas, pareciam transmitir a ideia que a banda havia acabado. Temas como "Goodbye to Old Friends", "The Path", "This Road is Long" (dueto com Maria McNee), "That Leaving Feeling" (dueto com Lhasa de Sela) ou "Already Gone", pareciam querer dizer aos fãs que a banda já havia acabado e que o entendimento com os restantes membros não tinha solução e que restava só ele. Um  claro desânimo para fãs...

Deixo-vos uma faixa para ouvir deste álbum, o magnifico dueto com Maria McNee, em "This Road Is Long", uma faixa quase pastoral, bucólica e interpretada muito intimamente por ambos como se encarnassem a situação romântica da canção. 



The Hungry Saw

Actualmente a banda reagrupou-se mas já não tem os mesmos membros da composição inicial. Três membros já a abandonaram, sendo que um dos mais influentes era o próprio Dickon Hinchliffe, que era quem dava um toque especial ao som da banda com os seus arranjos ao violino e pelas suas grandes elaborações orquestrais com o seu cunho muito próprio. Assim, desta vez da banda original restam apenas 3 membros, Stuart A. Staples na voz, Neil Timothy Fraser nas guitarras e David Leonard Boulter no baixo.




Contudo e apesar de tanta conturbação, nas 12 faixas do "The Hungry Saw", fazem discorrer com muita saúde ainda todo o seu estilo melancólico único do passado. As substituções de novos membros e os arranjos sendo agora assegurados por um membro feminino, a banda renasce e faz um dos seus melhores álbuns desde há muitos anos. Este é um álbum que mostra que souberam recuperar a alma da banda dos tempos iniciais e comprovando com um disco que é adorável de ouvir no seu todo e de seguida, com as faixas a carregar a predisposição e ambiente para ouvir a canção seguinte.
Notável!




Stuart desfila todo o seu lado crooner e hiper-romãntico que sempre se lhe notou, com todos os seus trejeitos vocais para fazer das palavras mais do que elas parecem ser.

The Hungry Saw é um álbum muito bom e dele destaco faixas como: "Yesterday Tomorrows", "The Flicker Of A Little Girl", "The Other Side Of The World" e por fim as maiores que a vida "Mother Dear", "Boobar" e a magistral "The Turns We Took ".
A faixa "Mother Dear" tem a característica muito curiosa de atravessar 3 estados de espírito... para receber a redenção na seguinte "Boobar", do típico romance falhado.

Deixo-vos com uma actuação dos Tindersticks ao vivo num programa de TV, onde apresentaram o tema "The Flicker Of A Little Girl".





Tindersticks no Festival de Sudoeste no passado dia 8 de Agosto.

Eu vi o concerto deles pela SIC Radical e adorei-o.

A ideia de ter Tindersticks em plenos concertos de Verão vai um pouco contra a concepção destes festivais. O facto estranho destes concertos de Verão é que também pegam em bandas que funcionam muito melhor no intimismo das salas menores e os lançam para audiências gigantes ao ar livre, que estão lá principalmente para verem as outras bandas que são cabeça de cartaz desse dia. esses factores funcionaram contra a banda que mesmo assim deu um concerto bom e ao seu nível.

Achei o concerto mágico, concentrado totalmente no excelente recente álbum "The Hungry Saw", onde no alinhamento juntaram ainda algumas faixas de álbuns anteriores (as excepções e o relembrar do legado da banda).

Em termos de comunicação com o público, Staples continua o mesmo de sempre mas ainda mais apático. No entanto ofereceu uma actuação rigorosa e uma banda muito bem composta. Devemos pensar que esta banda Tndersticks está a renascer com novos elementos e percebeu-se bem na forma como dão os concertos. A saída de muitos dos antigos elementos originais não fez estragos na sonoridade e onde se ressalva uma maior aproximação das guitarras (acústicas e eléctricas) e do piano.

Alinhamento no SW:
Intro (Hungry Saw)
Yesterday Tomorrows (Hungry Saw)
The Flicker Of A Little Girl (Hungry Saw)
The Other Side Of The World (Hungry Saw)
E-Type (Hungry Saw)
If You're Looking for a Way Out (Simple Pleasures)
Say Goodbye To The City (Waiting For The Moon)
Travelling Light (Tindersticks 2)
Her (Tindersticks 1)
Mother Bear (Hungry Saw)
Boobar (Hungry Saw)
The Turns We Took (Hungry Saw)

 Este artigo complementa o da música da semana dedicado aos Tindersticks.


Links para descobrirem os Tindersticks:
Pelo site oficial da banda, MySpace e iTunes Store PT

4 comentários:

middle finger disse...

Parabéns pelo artigo ... muito bom;
Não conheço a banda, mas depois de ler fiquei com mais vontade de dar uma espreitadela. Quanto aos alinhamentos em festivais ... é sempre a mesma coisa, nunca aprendem ... eu estive no Ermal em 2002, no famoso episódio com os Nickelback e toda a gente percebeu que aconteceu pelo alinhamento ... Nickelback e Slipknot não encaixam. Já durante a tarde os Mind da Gap tinham sido bombardeados, simplesmente aguentaram melhor.

Grande abraço

Alexandra Paulo disse...

Teria ido assistir de novo a um concerto dos Tindersticks, mas com muita pena não pude.....
As músicas que aqui apresentas são das minhas preferidas....
O que penso é que depois de conhecer os Tindersticks aprende-se a gostar..... e depois ouve-se, ouve-se e torna-se a ouvir e não cansa.... Eu gosto....

ArmPauloFerreira disse...

Obrigado pelo apoio Middle finger e por teres apreciado.
O teu extenso artigo (dividido em 3 partes) sobre os Soulfly, é também digno de nota e recomendo a todos apreciarem a tua abordagem.

Recordo muito bem a situação que se passou com os Nickelback no Ermal... realmente vitimas do alinhamento e isso acontece a imensas bandas. Juntar alhos com bugalhos nunca deu certo.

Adoro os Mind da Gap e já os publiquei aqui também ( http://armpauloferreira.blogspot.com/search?q=mind+da+gap )


Sobre os Tindersticks... tentei fazer um artigo que lançasse a faísca a quem não os conhece e ao mesmo tempo abordar de forma interessante e com detalhes a quem já os conhece e gosta. Pleo meio ainda abordei subtilmente a questão dos alinhamentos dos festivais de verão.
Falar de música apaixonadamente, impõe abordar os nossos gostos pessoais. É uma tarefa dificil pois colide com os gostos dos outros... e cada um tem os seus. Tento não criar choques e promover.
Obrigado e vai aparecendo.

ArmPauloFerreira disse...

@ Xana: Primeiro estranha-se e depois entranha-se, pois têm uma sonoridade marcante.
Realmente o concerto que vimos no Coliseu do Porto há uns anos atrás foi inesquecível... memorável... uma celebração!