quarta-feira, 14 de julho de 2010

Música da Semana: Expensive Soul e a "Utopia"

O mais recente registo discográfico dos Expensive Soul tem-me extasiado totalmente nas últimas semanas (este e o dos Mind Da Gap são mesmo bombas!).
Que belíssimo disco pop português!

Dizer que é música pop é até redutor para o impressionante trabalho de produção desta álbum, o "Utopia" que assinala, 4 anos depois, o regresso do duo a 2010.


Na verdade, o que os Expensive Soul fazem neste álbum é continuar a fusão de hip-hop com outros estilos, desta vez a soul e funk. O resultado é de alto nível, acima da média nacional neste estilo e com isso oferecem-nos um punhado de canções que valem a pena ser descobertas.
A abordagem que dão á sonoridade de "Utopia" é feita em jeito intemporal, onde o imaginário da soul entra em agitação com uma certa ideia de modernidade pop providenciada pelo sempre (omni)presente hip-hop. Tem um travo funk, que por vezes me recorda os bons tempos de Prince em colisão com a ideia de som de "Back to Black" da Amy Winehouse.

É por demais evidente a qualidade sonora deste álbum, pleno até de requintes culturais inteligentes, prestando uma pura homenagem à grande música negra norte-americana, sem deixar de ser algo bem lusitano. No entanto, é pelas vozes invulgares em sintonia deste duo, o New Max e o Demo, que o brilharete se evidencia por cantarem estilos tão diferentes como se nada fosse.
Primeiro porque as vozes funcionam perfeitamente bem juntas, onde os estilos opostos de cada um acaba por complementar a "actuação" do outro.
Segundo porque contornam ainda os eternos problemas do "cantar em português" sabendo dar um uso inteligente às palavras que cantam, quer foneticamente quer seja também pelo sábios adornos ao português. Principalmente, pelos trejeitos da maneira de cantar deste "soul-man" cuja voz é castiça e próxima do falsette -quando não é mesmo um falsette (daí a alusão a Prince até pela forma de cantar)! Em certa parte é ele com esta voz muito própria que provoca o destaque inicial quando se escuta o single de "O Amor é Mágico" que anda por aí em rotação.

Tudo isto, não seria interessante se as canções não fossem realmente boas e a primeira que se destaca sem conhecer o álbum é a já popular, "O Amor é Mágico", cujo video muito caricato se pode apreciar já de seguida.


Espantosa mesmo!
Tem uma condução para o refrão magnifico e icónico o suficiente para de imediato se começar a cantarolar, ao qual se junta uma dose de força com um bem pontudo rap. Os instrumentos de sopro são o toque fundamental numa canção que é ela própria um good feeling com todo o seu ritmo uptime. É um excelente cartão de visita a este novo álbum dos Expensive Soul. Esta canção tem fome de todo o airplay que possa alcançar.

Mas o álbum tem ainda mais e bons momentos...

Recuando no tempo... Já não é de agora que conheço os Expensive Soul (quem é que não conhece?) mas nunca lhes havia notado nada mais do que um mero pop festivo á tuga, polvilhado de ambientes quase reggae ("13 Mulheres", "Brilho" ou "Falas disso" são alguns exemplos). Portanto a chegada de um novo registo deles, passaria ao lado se continuassem o mesmo rumo.
Não fosse ter estado a ver as entrevistas deles em pleno Rock In Rio Lisboa 2010 e nunca teria interiorizado que algo de especial existia neste disco. Tudo normalissimo para a TV, era uma comum entrevista até que... desatam a cantar á capella na entrevista uma parte do tema "O Amor é Mágico". Uau! Um belo momento que me deu o clique suficiente para investigar este novo material por inteiro. E valeu a pena, porque é uma pérola que está desde então em modo repeat...

O álbum tem um arranque mesmo tipico do hip-hop com um arranjo musical ao puro estilo da música negra americana para nos fazer perceber o que nos vai ser proposto e é seguido da faixa "O Amor é Mágico". Apartir daqui não pára mais o desfile da qualidade dos arranjos que este duo se muniu, ao qual empregam inicialmente a fórmula mais óbvia de versos-refrão-versos-refrão-rap-refrão. O mais entusiasmante é a maneira como vão destruindo essa mesma fórmula confortável e arriscam outras sequências sempre cativantes. Ora é canção puramente de soul para rap, ora é momentos unicamente hip-hop, ora é hip-hop com um refrão pop cantado com muita soul e fazem-no sempre com mestria pois todas as variantes são sempre interessantes.

Outro facto é que não se ficam pelo mesma sonoridade constantemente. Há momentos interessantes de som à moda dos anos 80 com pendor para o break, há apontamentos drum'n'bass fugazmente, momentos quase dance-music e as sempre deliciosas guitarras rock a despontar por vezes.

Se faixas como "Tem Calma Contigo", "Deixei de Ser Bandido" ou "Só Contigo" são exercicios pop Ok e normais, a verdade é que os grandes destaques do álbum passam por faixas como "Contador de Histórias", "São Dicas" e "Contra-Corrente" (que surge no final com um fragmento extra musical do mais puro hip-hop, com um impressionante flow de rap) as que atingem os mais altos voos.

Para o fim reservo o momento de excelência do disco, que é a fabulosa e magistral canção:

"Dou-te Nada".
(adenda: este é o video oficial, que adicionei posteriormente - saber mais aqui)

Escutar bem todas as partes e todos os pormenores, um enorme groove no baixo pontuado por um jogo de batidas saboroso, a simbiose das vozes com os sons desta canção, onde as teclas criam uma malha irresistível e todas as suas deambulações musicais até ao final, incluindo a integração perfeita do rap. Superlativa!
Esta é uma das raras canções que recebem no meu iTunes as exclusivas 5 estrelas de classificação (e sou forreta a dar 5 estrelas).

"Dou-te Nada" é talvez mesmo a grande canção portuguesa de todo o ano 2010. E o ano ainda vai a meio...

Fico por aqui!
Recomendo!



Obs: E o CD até não é caro pois saiu a 9,95€ para o mercado. Fossem todos assim...

Expensive Soul site (clicar aqui)
Também no MySpace

3 comentários:

Bruno Cunha disse...

Tens andado numa onde hip-hop. Já cheguei a gostar, aliás, já vi ES ao vivo mas agora gosto de outros géneros que estiveram sempre na minha cabeça mas agora são como lemas de vida.

Abraço
Cinema as my World

ArmPauloFerreira disse...

Nem por isso... apesar de ter falado mais de hip-hop nos últimos tempos realmente. Tenho sim, estado a ouvir mais musica portuguesa, facto que fará continuar nos próximos artigos mais alguns destaques, se conseguir aguentar (isto deveria ser um por semana... e não tem sido fácil.)

ArmPauloFerreira disse...

"agora gosto de outros géneros que estiveram sempre na minha cabeça mas agora são como lemas de vida"
Ainda hoje sinto curiosidade por saber melhor sobre isso...