sexta-feira, 27 de março de 2009

O som em formato digital...

"Os audiófilos extremamente exigentes que gastam milhares de euros com amplificadores a válvular e cabos revestidos a ouro têm por hábito barafustar contra aquilo a que consideram ser a qualidade medíocre dos iPods e do formato MP3 em geral."

(...) "Tal como os jovens de agora, os vinílicos inveterados habituaram-se tanto ao crepitar característico do som da agulha a passar pelas ranhuras das longas rodelas pretas que não conseguem aperceber-se da diferença de qualidade objectiva que há em relação ao som puro e cristalino do CD."

(...)"Os jovens preferem cada vez mais o som dos MP3s em detrimento de outros formatos com uma melhor qualidade sonora." e "esta preferência pelos MP3s está associada ao facto de eles se terem acostumado a este som e não tanto à (falta de) qualidade deste codec de compressão de áudio." E que "esta habituação ao MP3 é comparável à adoração pelos discos em vinil daqueles audiófilos que não conseguem ouvir música senão em gira-discos caríssimos." In Remixtures (excertos e foto)

Ora bem... estas palavras são, para mim, a evidência da conjectura do avanço dos tempos e do que é conveniente nos dias de hoje.
Nos dias de hoje, para a nova geração o que interessa é o que é prático-funcional e no instante que querem. Eu tenho de admitir que a inicio, há 10 anos atrás, tive sempre uma certa aversão a música em formato mp3, que ainda dava os primeiros passos, e que o correcto era ter o CD original. Não é à toa que tenho centenas de CDs... hoje em dia ao pó.

Tenho discos em vinil, em CD e em ficheiro digital e tenho de dizer que releguei para a reforma todo o equipamento que tinha (aparelhagem midi hi-fi muito jeitosa - com leitor de 5cds, gira-discos, duplo deck de cassetes, radio, amplificador, colunas) e a substitui por um kit home cinema de uma peça só (aquilo tem radio, lê cds, dvd, superAudio CD, como é integrado lê directamente o som DTS, etc). E obviamente que tenho um computador em casa, um iMac...

Assim o vinil ficou afastado em definitivo (também não tinha assim muitos), agora tenho uma meia-parede de cds a apanhar pó precisamente porque todasas faixas que me interessam (ou alguns albuns inteiros) todos ripadinhos em AAC no iTunes. Tenho um iPod nano, que foi reformado pelo magnifico iPhone... e acreditem: o ficheiro digital é o único que me interessa.
Tenho albuns em versão 5.1... e bahh... só os ouvi duas ou três vezes no máximo, lá na minha sala!

No fim, o que prevaleceu foi o método mais cómodo e prático. Essa é que é a verdade. O formato digital é isso que representa: é conveniente e plenamente satisfatório.

No entanto, não se pode acusar de que o MP3 é todo ele apenas som de porcaria.
Depende...

Se for criado apartir do CD original, ripado com boa resolução, o som ficará óptimo. Eu sou ainda de opinião que é até melhor o formato AAC, quando ripado de um CD a uma boa resolução (apartir de 192 khz ou mais). Sempre me pareceu que o som do MP3 soa menos cristalino que o do AAC, que acho um formato mais indicado para rock, pop, géneros acústicos, etc. Por outro lado o MP3 é mais rico em graves (ou pelo menos sente-se os graves e linhas de baixo mais acentuados), logo mais acertado para escutar som com muita batida electrónica (house, dance, etc).

O problema da falta de qualidade dos formatos musicais digitais, notam-se quando não se obtém de originais (CD), sente-se especialmente quando se opta por descarregar da internet de locais manhosos de partilha. Acontece que destes meios nunca se sabe a qualidade da ripagem das faixas e pode até acontecer de obtermos ficheiros MP3, obtidos de CDs feitos de faixas em MP3, ou de MP3 com sobreelevação da resolução (tipo est6avam em 128 khz e foram passados a 320 khz) que piora ainda mais a qualidade sonora (passando mesmo a ser notória o fraco som).
Que ninguém se engane que formatos populares como o MP3 ou AAC ou WMA, são ficheiros obtidos por compressão do som original, onde imensas frequências sonoras são descartadas. Normalmente são as frequências que em teoria o ouvido humano não as escuta mas que juntas com as outras todas refinam a excelência sonora (mas para isso é necessário uma qualidade hi-fi de reprodução de grande categoria -os sistemas audiófilos bem caros)

Mas claro, cada qual tem a sua forma de ouvir e sentir o som, e já que me refiro à reprodução em leitores digitais muita influência tem também a qualidade dos auscultadores dos dispositivos.

Uma outra situação é ouvir em espaço aberto (sem os auscultadores) os ficheiros digitais em volumes bem altos. Contudo, para ser escutado alto e sem auscultadores, merece também de um novo ecossistema de audio.

Não é conveniente reproduzir numa bruta aparelhagem hi-fi de estilo old-school (com aqueles componentes todos empilhados uns encima dos outros). O mais acertado nos dias de hoje são os leitores portáteis digitais reproduzirem o seu som para sistemas de colunas adequadas ao som dos leitores.

É aí que se escutará a proeza de trazer no bolso a nossa própria discoteca, por vezes até totalmente completa.
São estas colunas desenhadas para reproduzir som de formatos comprimidos que fazem toda a magia a disfarçar-potenciar um som que à partida não deveria ser de tão boa qualidade.
Mas que tocam bem... lá isso tocam!

O ecossistema torna-se assim bem diferente dos tempos antigos, quando trazíamos os conteúdos para reproduzir nos diferentes locais (discos vinil, cassetes... ou CDs) -em casa, nos amigos, no carro- equipados com vários sistemas de reproduzir como os gira-discos, decks de cassetes, leitores de CD.
Nos dias de hoje o mais acertado é trazer o reprodutor cheio com os conteúdos e apenas ligar a equipamentos que reproduzem o som (auscultadores ou colunas).

Tudo o que gosto está no iPhone, na imagem, que me serve em todo o lado, o que pretendo ouvir.
(Ora com auscultadores, ora com as colunas, ora com o emissor FM, etc)

Pode-se até dizer que a música nos dias de hoje é ainda mais pessoal que noutros tempos. Passamos do disco de um artista para autênticas jukebox com todos os artistas que gostamos (e até os que nem sabemos que gostamos).
Os tempos mudaram muito!

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